tag:blogger.com,1999:blog-34204759173765184132024-03-12T20:17:59.363-07:00Central ScrutinizerLucashttp://www.blogger.com/profile/00485085066318740802noreply@blogger.comBlogger48125tag:blogger.com,1999:blog-3420475917376518413.post-67345750292308148482012-10-04T07:16:00.002-07:002012-10-04T07:16:36.184-07:00Paulo Coelho é o intelectual mais importante deste país<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrcaikRsmg19YTBo1OemzYk3_B97rqV8shDe2H-Z-JX5P-qsCBMuRJ2fvEUX0KKBzNvS0HLOaKdZm6bR7lApCTXtuRX5ajK_ejVKmt2ZkiiaAQlOBqyIVcAvdbI4am6Ni-b2k5GQ8f3Zg/s1600/paulo+coelho.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrcaikRsmg19YTBo1OemzYk3_B97rqV8shDe2H-Z-JX5P-qsCBMuRJ2fvEUX0KKBzNvS0HLOaKdZm6bR7lApCTXtuRX5ajK_ejVKmt2ZkiiaAQlOBqyIVcAvdbI4am6Ni-b2k5GQ8f3Zg/s400/paulo+coelho.jpg" width="333" /></a></div>
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Sei que já faz tempo que passou o bafáfá sobre o autocoroamento de P. Coelho, mas me parece importante atestar a veracidade da afirmação ou da cerimônia. P. Coelho é, de fato, o intelectual mais importante do Brasil. E quem, além dele, ocuparia tal lugar? FHC? Antonio Candido? Olavo de Carvalho? Marilena Chauí? Luiz Pondé? Se encararmos o termo "importante" em termos de "alcance", não há competição. Difícil imaginar alguém lendo FHC no metrô de Recife, por exemplo (sei que tal coisa existe, mas ainda assim é difícil de imaginar). Já P. Coelho... talvez, nesse sentido, Augusto Cury faça concorrência. Ou padre Marcelo. Mas P. Coelho é lido na gringa. Muito lido. Então, não há mesmo quem possa assumir esse trono de grande intelectual brasileiro além dele.<br />
<br />
Claro, há quem diga que P. Coelho não é intelectual de maneira alguma. De certa forma, isso é correto. Mas também é errado. Quando se pensa num intelectual, geralmente se imagina o homem sábio, sentado em meio a uma infinitude de livros de onde retira os conhecimentos necessários para ofertar respostas profundas aos grandes problemas de seu tempo. Curiosamente, P. Coelho ao mesmo se encaixa e não se encaixa na descrição acima. Mas não é nela que me baseio para fazer a afirmação do título. Penso, na verdade, num conceito de intelectual muito mais abrangente: o intelectual orgânico gramsciano. Este seria aquele que nasceria <i>organicamente </i>do meio do qual faria parte e seria representante. E ofereceria suas próprias respostas para seu próprio meio.<br />
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P. Coelho é um intelectual orgânico. Isso me parece claro. Como brasileiro, ele acabou sendo o maior intelectual do país. Fazer o quê. Resta, na verdade, saber de onde P. Coelho nasceu organicamente. Do mercado? De um misticismo <i>new age</i>? De um país onde as pessoas queriam ouvir, como ele mesmo diz, coisas complexas de forma simples? De um <i>mundo </i>onde as pessoas queriam ouvir coisas complexas de forma simples? (Lembro aqui a conferência bolaniana "Los Mitos de Cthulhu" e da <a href="http://revistaforum.com.br/idelberavelar/2012/08/17/resenha-de-manuscrito-encontrado-em-accra-de-paulo-coelho-com-um-adendo/">resenha de Idelber Avelar</a> sobre o novo livro de P. Coelho) De tudo isso junto e mais alguma coisa insondável?<br />
<br />
Mais do que discutir sobre a polêmica boba das declarações marqueteiras/acertadas de P. Coelho, o interessante é discutir o local de onde este organicamente surgiu. Pois me parece que isso tem muito mais a dizer sobre o mundo em que vivemos do que a polêmica em si.<br />
<br />
<br />Lucashttp://www.blogger.com/profile/00485085066318740802noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3420475917376518413.post-76633718887606859662012-06-27T10:00:00.001-07:002012-06-27T10:00:50.757-07:00Pedro de Lara<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGM5NDfoAuQppsNFmgnXWURvTbrRdILJqUH6_8KZnCeL4W0mysgLPWErR-hArDrQ81aZt-zLsoxPWqV9gF1bQWq9uHsh7AlVu_XfgO8nVCqIRKA074TOonP_OwnJrPEN3luYRKuWsZlW8/s1600/pedro+de+lara+02.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGM5NDfoAuQppsNFmgnXWURvTbrRdILJqUH6_8KZnCeL4W0mysgLPWErR-hArDrQ81aZt-zLsoxPWqV9gF1bQWq9uHsh7AlVu_XfgO8nVCqIRKA074TOonP_OwnJrPEN3luYRKuWsZlW8/s400/pedro+de+lara+02.jpg" width="311" /></a></div>
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<br /></div>
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Era um dia chuvoso de verão em São Paulo, há alguns anos
atrás, quando eu passava as férias com meu pai, e nós andávamos de carro pelas
ruas cinza-amarronzadas da cidade. De repente, quando o carro dobrava uma
esquina torta qualquer (das inúmeras que existem em São Paulo), vimos o Pedro
de Lara. Mas era o Pedro de Lara mesmo: vestido de terno, com o cabelo preso
num rabo de cavalo e a expressão de mau-humor inconfundível. A única diferença
entre o Pedro de Lara que vi em São Paulo e o Pedro de Lara que via na TV era
que o primeiro tinha um pedaço de papel na cabeça para se proteger da chuva.
(também notei a ausência da musiquinha: “Pedro de Lara-ra, lá lá lá lá, lá
lá...”). <o:p></o:p></div>
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Meu pai, ao ver Pedro de Lara na rua, colocou a cabeça pra
cora do carro enquanto fazia a curva da esquina e gritou: PEDRO, FI DUMA ÉGUA!,
saudação que foi respondida pelo Pedro com um efusivo cruzamento ofensivo de
braços, ou seja, com uma clássica banana.<o:p></o:p></div>
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<br /></div>
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Até hoje eu penso que esse evento não significa nada, embora
eu tenha a sensação de que ele significa tudo.<o:p></o:p></div>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00485085066318740802noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3420475917376518413.post-15606225589794354162012-03-09T10:54:00.001-08:002012-03-09T10:54:07.829-08:00<p align="justify">Hoje, para o horror dos comunistas mais ferrenhos, eu comprei um caderno da Coca-Cola, o que me fez pensar no que esses mesmos comunistas pensariam se soubessem que eu tenho um broche do Che Guevara ornamentando uma boina. Aqueles mais tolerantes, ou com melhor senso de humor, talvez achassem que estou desonrando um dos elementos de seu traje característico (pensei aqui em dizer que seria um “ultraje a rigor”, mas a ridicularidade excessiva da piada me fez deixa-la de lado – ops!). A maioria, contudo, tenho certeza de que me chamaria de <i>poser</i>. Tudo bem. Não posso negar que, à falta de um duplipensar aprimorado, tenho consciência das contradições que carrego nas costas como cidadão ocidental. Mas, também pelo meu próprio bom humor, confesso que acho bastante engraçado quem se esquece que também faz parte desse nosso ocidente pós-moderno e acredita que deixar de tomar Coca-Cola é o primeiro – e essencial – passo para se orquestrar – como maestroarranjador que é – a – oh! – revolução.</p> <p align="justify"><img style="display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgelIVbcXMKuFL53MGqlad0oHTAw06ikzt8c5lHwhf0xfUx6Vf_EgUctX_EMQ8nF2UVi8gvOP-TYp40FP4toX5WS8307-tEib2rjUEnTixa0h3f0vToK1cBKNyoRmUJbiEWjO3THgtSmyw/s1600/che_coca_cola.png" /></p> <p align="center"><em><font size="1">imagem que é um verdadeiro terror epistemológico para alguns mais sensíveis</font></em></p> <p align="justify">Mas, como diria nosso querido Adorno, é tudo culpa do controle remoto. Ou algo assim. Porque com a popularização (e alguns diriam orkutização) de tudo, tudo virou um emaranhado de tudo. Marxismo atualmente (ou neo ou pós marxismo), quando é bem confundido, é confundido com comunismo; mas de maneira geral nego acha que marxismo é não comer no Mcdonalds (nosso refúgio contra o niilismo), não tomar Coca-Cola (que dirá comprar um caderno!) e andar de havaianas (que tão caras pra caramba).</p> <p align="justify"><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBkmcMrUsmLvSDwwBSR55p9QYTPYcE9qdFAE3QgnTCRT6AkH7qcoYCOVGlm407ND8zHpKEXgwDP3UK9SmQoB39rLUVZNyuAEI3voySu0tmrqXpyd7G8iKuTnqOpld_qQ_HToRSffzETSH4/s400/Figura_em_A_INDUSTRIAL_CULTURAL_EM_ADORNO.jpg" /></p> <p align="center"><em><font size="1">sacanagem, Adorno!</font></em></p> <p align="justify">Não que eu seja um daqueles que adoram brandir maldita inclusão digital ou algo assim, mas pra tudo tem limite. É preciso não só controlar a popularização do banal como também impedir a banalização das coisas mais complexas usando como pretexto a popularização. Como por exemplo, ver o Pedro Bial, vestindo o terninho de poeta, falar de feminismo num discurso de paredão no Big Brother. </p> <p align="justify"><img style="display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto" src="http://api.ning.com/files/0rHfQK4OI1CJkz2W9Z5yi8JCugzH3wJPL4MD0J8rEJDv6iMEhK5zY7u8L7XOqF6qAIHeT-d79XqjS6lOv1pC5TDXfbOgV9cT/PedroBial.jpg" /></p> <p align="center"><em><font size="1">nosso poeta engajado e intelectual orgânico</font></em></p> <p align="justify">Aliás, nem é preciso o Bial bancar o poeta engajado (nos termos sartrianos) pra gente ver a banalização do feminismo, tanto entre seus opositores como entre seus defensores. Ou seus e suAs defensores e defensorAs, oração essa que é um belo exemplo do feminismo banalizado. Claro que é importante chamar a atenção para a hierarquização dos gêneros veiculada pela própria linguagem; mas fazer disso um credo e jihad ao ponto de ter ataques histéricos toda vez que alguém engloba todo mundo sob o gênero masculino é bobagem. </p> <p align="justify">Da mesma forma, comemorar “por comemorar” o dia internacional da mulher é banalizar a data. Essa não é aquele dia pra dar os parabéns para todas as mulheres da sua família por elas terem tido a imensa felicidade de nascerem com dois cromossomos x. Essa é a data para lembrar de como as mulheres foram – e, absurdamente, ainda são – oprimidas por esses machismo e patriarcalismo babacas que insistem em andar de cabeça erguida quando deveriam ter sido varridos pra lata do lixo há muito tempo. E como apenas lembrar do passado quase nunca é suficiente pra resolver os problemas do presente, é o dia pra mostrar que a inferiorização da mulher ainda existe , e com muita força, e que isso precisa acabar o mais rápido possível. E se for possível, resgatando também um dos grandes propósitos do feminismo enquanto paradigma de pensamento, lembrar que não só as mulheres são vítimas de opressão, mas também os negros, gays, pobres, deficientes, etc., etc., etc., e que nada disso se justifica porque somos todos iguais. </p> <p align="justify"><img src="http://egho88.files.wordpress.com/2009/05/feminism-4.jpg?w=400&h=300" /></p> <p align="center"><em><font size="1">é preciso sempre lembrar</font></em></p> <p align="justify">Comemorar “por comemorar” o dia internacional da mulher me parece algo tão banal quanto passeata do orgulho hetero e coisas assim. É preciso sempre lembrar das razões para a existência de dias como esse para não correr o risco de que essas razões se dissolvam na euforia da comemoração em si. E para que por fim possamos viver numa sociedade mais justa e que já não necessite mais da existência de um “dia internacional da mulher”.</p> Lucashttp://www.blogger.com/profile/00485085066318740802noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3420475917376518413.post-32364877356050207652012-01-27T08:35:00.001-08:002012-01-28T08:03:31.605-08:00Ensaios sobre a democracia<div align="justify">
<img height="185" src="http://www.kuantokusta.com.br/img_upload/produtos_livros/516691_3_livro-ensaio-sobre-a-cegueira.jpg" width="185" /><img height="185" src="http://i.s8.com.br/images/books/cover/img4/230494_4.jpg" width="185" /></div>
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Há quem não goste de José Saramago pelo fato dele ter sido comunista. Ocupam este lugar geralmente pessoas que se consideram de direita que não leram a obra do escritor português. Felizmente, há aqueles que, se assumam como direitistas, tiveram a boa vontade de ler o que Saramago escreveu, e, embora continuem não gostando do escritor como pessoa, tiveram de se render à qualidade de sua obra. Tenho fé de que esses não sejam poucos, embora saiba que não são muitos.</div>
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Aqueles que se consideram de direita e que não leram a obra de Saramago costumam criticá-la por ser “um reles veículo da ideologia esquerdopata”, ou algo no estilo, e adoram enxergar nos <i>Ensaios</i> (<i>sobre a cegueira</i> e <i>sobre a lucidez</i>) do autor um ataque stalinista à democracia duramente conquistada na base da luta, do sangue, da coragem e do capital. É preciso assumir que tal estratégia, embora seja um belo clichê, ainda mantém uma força invejável; poucas pessoas, sejam elas de direita, esquerda, centro ou qualquer coisa que patine entre essas categorias dificilmente demarcadas, se atrevem a defender que a democracia deva ser extinta, e sempre que ela sofre um ataque a maioria corre logo para defendê-la, de um jeito ou de outro. </div>
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Se Saramago odeia da democracia e quer vê-la na lata do lixo dos sistemas políticos, quem se atreveria a defendê-lo? Bem, qualquer um com um mínimo de senso crítico e que tenha gastado um pouco do seu precioso tempo para ler o que ele escreveu. Primeiramente, é preciso dizer que não existe nada nesse mundo que não deva ser questionado, muito menos a democracia; questionar é sempre o primeiro passo para o avanço, e se o conservadorismo radical tomasse conta de todas as dimensões da vida humana ainda viveríamos em cavernas (ou nem isso). Em segundo lugar, o questionamento da democracia nos <i>Ensaios</i> está longe de promover qualquer tipo de ditadura, uma vez que um dos principais ataques de Saramago em seus livros se dirige às ações opressivas do Estado. Por fim, o que percebemos no <i>Ensaio sobre a lucidez</i> é que as pessoas podem muito bem governar a si mesmas sem a interferência do Estado, de uma maneira pacífica em que cada um é responsável por agir de modo a manter a melhor convivência possível com os outros. Há, no segundo <i>Ensaio</i> saramaguiano uma verdadeira <i>demo cracia</i>, ou seja, uma forma de organização social na qual o poder reside diretamente sobre o povo.</div>
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Fica claro, então, que a crítica de Saramago não é à Democracia, mas sim a um tipo falso de democracia, no qual o núcleo que detém o verdadeiro poder é formado por umas poucas pessoas que de maneira geral se colocam contra o povo em favor de seus interesses próprios, bem como à falta de capacidade das pessoas de conseguirem compreender o tipo de democracia no qual que vivem. Nesse sentido, <i>Ensaio sobre a cegueira</i> não é apenas uma fábula sobre a animalidade que o homem pode chegar quando privado de suas necessidades mais básicas, mas também um aviso sobre até onde a falta de visão (crítica) pode nos levar.</div>
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Esse tipo falso de democracia denunciado por Saramago está ganhando um destaque nunca antes recebido, principalmente devido às inúmeras novas denúncias feitas através do compartilhamento de informação proporcionado pela interação nas redes sociais e pelo crescimento da imprensa independente, ambos frutos da popularização da internet. Somente uma imprensa livre do “patrocínio” das grandes empresas é capaz de se esquivar e alertar sobre o <i>lobby</i> que essas mesmas empresas exercem sobre as decisões do poder público, como recentemente aconteceu com a “eleição” que colocou tecnocratas no poder da Grécia e da Itália, jogando por terra um dos princípios básicos da democracia, aquele que diz que o povo é quem deve escolher seus governantes. </div>
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Por outro lado, a interação fomentada por redes sociais como o <i>Facebook</i> não só foi importante no combate às ditaduras mais visíveis, como aconteceu nos movimentos da Primavera Árabe, como também na organização de protestos contra a falsa democracia, o que ficou evidente pela organização de diversos “occupy” ao redor do mundo, sendo o mais famoso deles o <i>Occupy Wall Street</i>. Esse, aliás, foi responsável por tirar a máscara do país que mais se orgulha de sua democracia e que adora exportá-la (à força) no mundo, os Estados Unidos. Sob o lema “We are the 99%”, referindo-se à grande maioria das pessoas que vivem nos Estados Unidos, os protestos questionaram as leis injustas que favorecem os 1% da população mais rica do país em detrimento da grande maioria pertencente às classes média e pobre. Que tipo de democracia é essa que governa apenas para um por cento da população de um país?</div>
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No <i>Ensaio sobre a cegueira</i> a população que vai gradativamente ficando cega é trancafiada para evitar que a epidemia se espalhe. Contudo, ao invés de serem tratadas da doença, as pessoas são abandonadas à própria sorte e submetidas a situações degradantes devido à falta de qualquer tipo de assistência. O que acontece é justamente o contrário: com a desculpa de evitar a propagação da epidemia os cegos são duramente repreendidos pelas forças policiais e militares, que a princípio deveriam protegê-los e auxiliá-los. Da mesma forma, vimos cenas de violência abusiva contra os manifestantes do <i>Occupy Wall Street</i>. Mas não é preciso ir tão longe para encontrar exemplos. Aqui no Brasil recentemente vimos a repreensão bruta e sem motivos dos estudantes que organizaram uma manifestação pacífica contra o aumento das passagens de ônibus de Recife, ao mesmo tempo em que acontecia uma cruel retirada de famílias há muitos anos instaladas na área que forma a comunidade do Pinheirinho, em São Paulo. </div>
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Essas duas ondas de violência e injustiça foram promovidas por partidos tanto de esquerda quanto de direita, ou talvez de centro, já que, como dissemos, esse tipo de delimitação parece cada vez mais difícil ou mesmo inútil de ser feita. Afinal, o motivo para tal violência é o mesmo: a repreensão do povo em favor de pequenos grupos com um forte poder de influência. Dizer-se de direita ou esquerda hoje em dia parece ser apenas uma forma de conquistar votos de determinada parcela da sociedade que se identifica com tais etiquetas; na prática, a diferença é determinada apenas pelos interesses daqueles que ajudaram financeiramente os políticos a se colocarem no poder. </div>
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Tal falsa assunção ideológica por parte dos partidos da falsa democracia é também alertada por Saramago em <i>Ensaio sobre a lucidez</i>. Tudo começa com a onda de votos em branco, que impede não só o partido da direita, como também do centro e da esquerda de assumirem o poder por falta de votos suficientes. Mais tarde descobrimos que a onda de votos brancos acontece no mesmo país em que anteriormente havia ocorrido a epidemia da cegueira. Foi preciso, assim, que todos tivessem ficados cegos e vivo a falência do Estado junto com a decorrente barbárie para tomarem consciência de que pouco importava em quem votar; e que, portanto, não se quer mais ninguém no poder para que os mesmos erros sejam cometidos novamente. Vencida a cegueira, vem a lucidez.</div>
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A organização em torno de um direito do povo que supera as simples ideologias políticas é notada pela manifestação em torno da defesa da liberdade da internet e no combate aos projetos de lei norte-americanos conhecidos como PIPA e SOPA. Independentemente da assunção das pessoas como “de esquerda”, “de direita”, “de centro”, etc., o que se nota é a consciência de que o direito de muitos não pode ser colocado de lado em favor do desejo de poucos. Enquanto as grandes empresas acusam o compartilhamento de arquivos entre pessoas de pirataria, o mesmo não acontece com as pessoas que estão compartilhando, que acreditam ser esse um direito seu; dessa forma, houve uma revolta geral quando os usuários da internet perceberam que os interesses e o entendimento da maioria no que diz respeito ao compartilhamento de arquivos está sendo simplesmente ignorado em favor do lucro de poucos. E que isso, também, não pode ser chamado de democracia.</div>
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A internet trouxe uma possibilidade de interação e articulação entre as pessoas que permitiu descortinar a falsa democracia em que vivemos; a reação dessa falsa democracia, como boa ditadura que ela na verdade é, foi tentar minar a potencialidade da internet, ao mesmo tempo em que serve aos interesses dos pequenos núcleos que continuam controlando o mundo. Contudo, como Saramago provavelmente desejava que ocorresse, talvez com uma pequena ajuda de seus dois <i>Ensaios</i>, é possível que estejamos finalmente vencendo a cegueira. Resta saber se seremos capazes de alcançar a lucidez e finalmente deixar para trás essa democracia de mentira</div>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00485085066318740802noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3420475917376518413.post-2632684145719192262012-01-23T10:43:00.000-08:002012-01-23T10:51:44.409-08:00Anonymous, V, Zappa<p><img src="http://jonathanrodrigues.com.br/imagens/b667c40bb7c7.jpg" width="192" height="188" /><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJflP9cTkEo38yqeRh1afrDOF8VUj_4GGrZrFVWmf5GeXBsSsarnZNc_s1Y_xPwAYmpKkyjZHv_51nLs1-QonFE1ExqqvaluO1iS8Xly_UL711ly0ZkS-hBVVDLomQS2vGZ6sdZxSg0WWa/s1600/V_mask.PNG" width="189" height="189" /></p> <p align="justify">Quem frequenta a internet hoje em dia (as redes sociais) já deve ter ouvido falar do Anonymous e de um dos seus símbolos adotados mais famosos: a máscara utilizada pelo protagonista de V de Vingança. Mas acho que pouca gente, infelizmente, conhece Frank Zappa, e nem faz ideia da relação entre o controvertido músico e o grupo de hackers e seu símbolo. E sim, ela vai além da simples aparência.</p> <p align="justify">A primeira relação entre os três elementos é a luta pela liberdade. Se a liberdade buscada por V pertence a uma instância muito mais política (num sentido mais restrito da palavra), e a do Anonymous se refere mais à distribuição livre do conhecimento, poderíamos dizer que Zappa estava no meio dessas duas esferas, revelando que na verdade uma não está tão separada da outra como às vezes parece se pensar. Defensor da liberdade individual e da diminuição do poder do Estado sobre as pessoas (a ponto de se considerar um “conservador” inserido na conjuntura política de seu país), era também contra qualquer controle do pensamento e da expressão, como pode ser visto através do seu discurso no Senado norte-americano, a respeito do projeto de censura de conteúdo musical desenvolvido pela <i><a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Parents_Music_Resource_Center">Parents Music Resource Center</a></i>:</p> <p align="justify">“A proposta da PMRC é uma peça doentemente concebida que falha ao entregar qualquer benefício real às crianças, infringe as liberdades civis de quem não é criança, e promete manter a corte ocupada por anos com problemas de interpretação e constrangedores inerentes ao desenho da proposta. É meu entendimento que, na lei, as publicações da Primeira Emenda são decididas com preferência pela alternativa menos restritiva. Neste contexto, as demandas da PMRC são equivalentes a tratar caspa com decapitação... O estabelecimento de um sistema de classificação, voluntário ou de outro modo, abre a porta para uma parada interminável de programas de controle de qualidade moral baseados em coisas que certos cristãos não gostam. O que acontecerá se o próximo monte de esposas de Washington demandar um "J" grande e amarelo em todos os materiais escritos e apresentados por judeus, para salvar crianças desamparadas da exposição à oculta doutrina sionista?”</p> <p align="justify">Nota-se claramente a associação ao controle do pensamento com a opressão à liberdade do cidadão, e, mais, do que isso, à consequente perseguição a grupos minoritários que em algum momento poderiam ameaçar o <i>establishment</i>... ou apenas irritá-lo por contrariar sua ideologia (não à toa Zappa era um feroz combatente da religião organizada). “Who are de Brain Police?”, perguntava Zappa no <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Freak_Out!">primeiro álbum conceitual da história do rock</a>, e também o primeiro disco de sua carreira, chamando a atenção para a ação coerciva do Estado contra o pensamento.</p> <p align="justify"><img style="display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto" src="http://images.uulyrics.com/cover/f/frank-zappa-the-mothers-of-invention/album-freak-out.jpg" width="369" height="369" /></p> <p align="justify">A assunção de Zappa como “conservador”, contudo, não o fazia nem de longe um reacionário alinhado com a direita conservadora norte-americana. Além de ser um contestador de quase tudo o que se mantinha no poder, a inclinação política de Zappa parecia estar mais próxima ao anarquismo do que a qualquer outra coisa, o que se reflete na sua própria obra como músico, na sua dimensão formal extremamente experimental e revolucionária, e tecendo diversas críticas suas letras ácidas e bem humoradas, sem, contudo, se preocupar em oferecer soluções (talvez consciente da própria parcialidade e falibilidade dessas soluções). Tal anarquismo zappiano parece estar bem próximo das ideias carregadas por V e pelo Anonymous. A ideia básica aqui me parece ser a de que cada um, agindo individualmente mas com um objetivo geral compartilhado, faz a força necessária para a mudança que se pretende. Uma mudança em direção a um mundo mais justo, é preciso lembrar, embora não se pareça saber exatamente quais seriam as feições de tal mundo. Essa “individualidade conjunta” parece ser metaforizada pela distribuição feita por V de máscaras idênticas a sua para a população londrina como uma convocação à ação (melhor confessar logo que, infelizmente, nunca li o graphic novel e só vi o filme de <i>V de Vingança</i>): não importa tanto os motivos individuais que movem cada um, desde que o movimento aconteça, e a máscara é menos uma forma de proteger a identidade do que de se associar a um mesmo grupo que compartilha o mesmo objetivo. No caso do Anonymous, isso é refletivo não só no nome e no símbolo compartilhado com a obra de Alan Moore, mas na própria estrutura do movimento, organizado não em torno de um grupo, mas em torno de um princípio básico, e formado por diversas ações mais ou menos individuais que seguem esse princípio.</p> <p align="justify"><img src="http://cbimg6.com/graphics/08/01/04/44266b.jpg" /></p> <p align="justify">É interessante notar como, apesar de toda a semelhança física entre as imagens de Zappa e de V (e do Anonymous), o primeiro está tão distante do(s) segundo(s) no que diz respeito à identidade. Zappa está longe de ser um anônimo (como qualquer bom <i>rockstar</i>), e suas ações concretas sempre tiveram consequências diretas sobre ele, ao contrário do que acontece com o Anonymous, cujos membros estão (parcialmente) protegidos pelas máscaras que utilizam. Não é minha intenção aqui julgar um tipo de ação como melhor do que a outra, mesmo porque tenho noção das diferentes conjunturas que separam as ações de Zappa e do grupo. Contudo, gostaria de destacar que isso tornou a imagem de Zappa num ícone, muito semelhantemente ao que aconteceu com V, embora em escala, infelizmente, bem reduzida.</p> <p align="justify">Digo infelizmente porque acredito ser interessante retomar algumas das ideias inovadoras de Zappa, e talvez tentar articulá-las com o contexto atual, tendo consciência que muito da luta antiga do músico toma proporções enormes atualmente. Só como exemplo, cito a ideia dele de pensar na transferência digital de músicas como uma forma de facilitar e baratear o acesso a material musical de qualidade ao mesmo tempo em que garantiria o direito do artista de receber por seu trabalho, evitando o controle das grandes gravadoras que prejudicam o público e o artista. Pouca coisa me soa mais atual e pertinente do que isso no que diz respeito à indústria fonográfica de hoje em dia. Talvez se as gravadoras, os músicos e os próprios consumidores tivessem parado para pensar nisso quando Zappa falou, tivéssemos uma situação muito mais tranquila agora, e não precisaríamos correr o risco de perder a internet.</p> <p align="justify">Admiro o trabalho do Anonymous, assim como gostei bastante do personagem V, e fico feliz com a popularidade dessas duas figuras, embora elas tenham constantemente e infelizmente caído na armadilha <i>hype</i>. Mas, como gosto pessoal, admiro muito mais a figura do músico de Baltimore, por suas grandes ideias, mas sobretudo pela sua arte. Afinal, nas palavras do próprio mestre:</p> <p align="justify">“Information is not knowledge. Knowledge is not wisdom. Wisdom is not truth. Truth is not beauty. Beauty is not love. Love is not music. Music is the best”</p> Lucashttp://www.blogger.com/profile/00485085066318740802noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3420475917376518413.post-41985719674572166642010-12-01T11:20:00.001-08:002010-12-01T11:20:48.583-08:00Cavalinhos Gregos<p>O Central Scrutinizer estacionou legal. Escrever textos mais longos tem sido difícil, pois o tempo anda muito escasso. Por isso não tenho postado nada de novo. Aqui.</p> <p>Meu atual projeto ativo é o Cavalinhos Gregos, um blog de minicontos fantásticos. Se alguém ainda aparece por aqui, peço que apareça por lá:</p> <p><a title="http://cavalinhosgregos.blogspot.com/" href="http://cavalinhosgregos.blogspot.com/">http://cavalinhosgregos.blogspot.com/</a></p> <p>Um dia eu ainda toco o bonde. Um dia.</p> Lucashttp://www.blogger.com/profile/00485085066318740802noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3420475917376518413.post-11012249190277094882010-06-24T12:23:00.001-07:002010-06-24T12:23:18.626-07:00Divindade Espontânea<p align="justify">Imagine que você é Deus.</p> <p align="justify">Imagine que você é onipotente, onisciente e onipresente, e que, apesar de seu feito de amor, é justo e ao mesmo tempo cruel, piedoso e temível, além de orgulhoso, excêntrico e de extremo bom gosto. Talvez você nem seja assim de verdade, porém essa será a imagem que terão de você.</p> <p align="justify">Agora pense em um lugar qualquer, contanto que seja vivo: ou seja, que possua águas, plantas, rochas e bichos. Este será o lugar onde você poderá construir o seu mundo, e este mundo, enquanto permanecer assim, será perfeito em sua simples harmonia, e continuará perfeito até que você cometa seu primeiro erro.</p> <p align="justify">Digamos, então, que seu primeiro erro será colocar um outro homem dentro desse mundo, alguém que seja à sua imagem e semelhança (não esqueça jamais: você não é Deus, apenas imagina que é). Talvez isso não represente um erro propriamente dito, pois, enquanto esse homem estiver sozinho, poderá viver dentro da simples harmonia que o seu mundo já possui; terá de adaptar-se, é verdade, e é bem possível que ele sofra um pouco; mas conseguirá, e assim a perfeição do seu mundo irá prosseguir conforme já havia sido planejada desde que nascera. Mas muito provavelmente você, não contente em ver que o seu homem está a viver tranqüilo dentro da simples harmonia do seu mundinho perfeito, vai sentir vontade (e esta talvez seja uma pequena travessura do seu lado mais infantil) de colocar lá dentro mais alguém como vocês, só pra ver no que vai dar e como já existe um homem, o senso comum obrigar-lhe-á a colocar uma mulher – que é tida, às vezes, como a contraparte do homem – dando assim um maior contraste à coisa toda, ao mesmo tempo em que, quem sabe ironicamente, mantém um equilíbrio necessário à perfeição do seu mundinho, o que, aliás, seria absolutamente impossível de ocorrer caso houvesse lá dois homens ou duas mulheres.</p> <p align="justify">Este, em si, assim como no outro caso, não terá sido seu primeiro erro; porém a união dos dois sim. Pois imagine só que da união do homem e da mulher nascerá outro ser humano; e que de uma segunda união nascerá um segundo ser humano; e que isso se repetirá até que tenham nascido vários filhos dos seus primeiros semelhantes; e que esses filhos também irão unir-se entre si, criando assim uma terceira geração, e que da relação entre a terceira geração levará à quarta, que trará a quinta, que fará a sexta, que gerará a sétima e assim sucessivamente; e que logo o seu mundo perfeito está cheio de outros iguais à você, destruindo assim a simples harmonia que demorou tão pouco tempo, mas que foi sublime enquanto isso. Tente perceber qual será sua dor ao tomar conhecimento de seu primeiro erro e o que ele causou, mesmo assim ele será só o primeiro.</p> <p align="justify">Imagine agora que talvez por raiva, ou por pena, ou até por um simples capricho seu, você ensinará coisas diferentes a pessoas diferentes. A alguns você dirá que se chama Deus e pregará a justiça, a outros dirá que seu nome é Vontade, e ensinará a força e a perseverança, em outro lugar você será conhecido por Universo e sua doutrina será o ócio; e para alguns, os mais terríveis, será chamado por Diabo e tudo o que for feito em seu nome será roubo, dor e assassinato. Pelo mesmo motivo que você se mostrou de formas diferentes a pessoas diferentes, colocará essas pessoas em lugares totalmente diversos um dos outros. A uns a terra será frutífera e bela; a outros, seca e dura; a alguns, gelada demais para se viver, e a outros, quente demais; terras montanhosas, planas, feias, estranhas, úmidas, pequenas, vastas, todos os tipos de lugares, e em cada um deles viverá um tipo de homem diferente.</p> <p align="justify">Continue imaginando que todo esse seu capricho (ou justiça, ou piedade, ou qualquer nome que você queira dar, e que se aplique melhor à sua personalidade – ou não) não terminará por aí, lembre-se que você é Deus, e que é infinito, assim como os seus delírios. As doutrinas que você pregou a cada um desses grupos de pessoas, ou povos, revelar-se-ão doentias nas mãos e mentes desses seus filhos-irmãos assim que começarem a aparecer com maior força as características que você possui e que eles herdaram. Pois você, como homem, é pequeno, covarde e mesquinho; e assim serão as religiões que você ajudou a construir. Sua intolerância e preconceito criará escravidão e injustiça; sua cobiça e desprezo fará guerra; sua mesquinhez e preguiça gerará fome; sua falta de amor e altruísmo, morte.</p> <p align="justify">Agora imagine, por fim, que você, como Deus, poderá prever a tudo isso e que por sua culpa e por conta de seus erros, seus filhos-irmãos viverão num mundo cheio de dor, aflição, injustiça e sofrimento.</p> <p align="justify">Mas mesmo assim, se eles acharem que estão sem você, vão pensar que estão no inferno.</p> Lucashttp://www.blogger.com/profile/00485085066318740802noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3420475917376518413.post-9365348523138703582010-04-16T21:01:00.000-07:002010-04-16T21:02:37.235-07:00Contrapunctus- Me dá dois reais de pão.<br />- Dois?<br />- É. Você sabe o que foi que aconteceu ali?<br />- Bala. O cara vinha no carro, apareceu dois motoqueiros e balearam ele.<br />- Balearam?!<br />- Foi, agorinha. Cinco tiros.<br />- E o cara morreu?<br />- Morreu nada, tá lá no carro ainda. Tão esperando o SAMU chegar, porque não dá pra tirar ele de lá do carro.<br />- Nossa, e foi assalto isso?<br />- Nada, com certeza foi emboscada. Os motoqueiros vieram de capacete, já tavam esperando ele chegar, vê lá como o carro tá parado na rua.<br />- Quer dizer que o cara é bandido também...<br />- É sim, todo mundo sabe que ele andava com uns negócios esquisitos. Ele é filho de Dona Elisabete, da rua daqui do lado. Compra pão aqui todo dia, ela. Mas é assim mesmo, o cara se mete com coisa errada só pode dar nisso.<br />- Pois é...<br />- Tó aqui seu pão. Paga lá no caixa.<br />- Brigado.<br />- Boa noite.<br />- Boa. Você é quantos?<br /><br />- Porra nenhuma!<br />- Ei, é sério, deixa o cara.<br />- Porra nenhuma. Deixa de frescura, caralho!<br />- Não quero, já falei que não tô no clima.<br />- Deixa o cara, não tá vendo que ele tá mal?<br />- Mal. Mal. Por quê? Por causa de mulher. Ah, babaca.<br />- Não quero, pô. Me deixa.<br />- Ah, vá. Eu bebo sozinho mesmo.<br />- Isso, fica quieto.<br />- Quieto nada! Quero fazer um brinde!<br />- Que brinde!<br />- Um brinde ao cara morto. Ao morto...<br />- Ele não tá morto.<br />- Ao morto e à mulher. Porque não tem coisa melhor do que mulher!<br />- Cara, tu já tá falando merda...<br />- À mulher do nosso amigo...<br />- Ei, ei, ei! Que é isso?<br />- Para velho, tu tás muito chato!<br />- Calma, calma... Então só à mulher. Eu bebo à mulher e ao morto!<br />- Puta merda...<br /><br />- Olha ali, parece que tá acontecendo algo...<br />- Não mude de assunto!<br />- Não tô mudando! Olha ali quanta gente junta, deve ter acontecido alguma coisa!<br />- Eu vi que tem um bocado de gente ali, mas não é disso que estávamos falando. Você sabe disso. E você sempre encontra algum motivo pra deixar de conversar quando eu digo que tem alguma coisa errada.<br />- Não tô fugindo de nada. Só tô comentando que tem alguma coisa esquisita ali, porque com esse bando de gente junta fica difícil de passar com o carro, só isso. Não é desculpa pra fugir do assunto.<br />- Poxa, você não vê que isso não importa? Pode ter acontecido o que for, eles tão lá e a gente tá aqui! A gente tá falando de nossas vidas, da nossa vida, e você fica tentando comentar sobre algo pra ver se essa conversa muda!<br />- Não é isso... <br />- Poxa, você não vê que é justamente esse o problema? Que você foge de tudo, de tudo que é sério, parece que tem medo da responsabilidade! E eu querendo resolver esse problema e você fica falando dos outros...<br />- ...<br />- Tem mundo lá fora, mas o que importa agora é o mundo aqui dentro, deixa essa coisa pra lá e se concentra aqui, poxa! A gente tem que resolver isso ou então deixar tudo pra lá, tudo.<br />- Tá.<br /><br />- Ei, cara, você tá bem? Ei, tá me escutando?<br />- Ah...<br />- Ele não tá ouvindo, porra, ele não tá ouvindo!<br />- Não, ele tá sim! Ei, você tá me ouvindo, né, tá me ouvindo?<br />- Tô sim...<br />- Não desiste, amigo, não desiste! A ambulância tá chegando!<br />- Vamo levar ele de carro!!<br />- Não dá, pode machucar ainda mais.<br />- Mas porra, olha quanto sangue, ele vai morrer!<br />- Não diz isso! Não diz isso!! E dá espaço, ele precisa respirar!<br />- Não quero...<br />- O que? O que foi, amigo?<br />- Não quero morrer...<br />- Você não vai morrer, você não vai!<br />- Me ajuda...<br />- Você não vai morrer, porra, a ambulância tá chegando! Agüenta aí, amigo, agüenta aí!<br />- Puta merda, que demora essa ambulância.<br />- Respira cara, respira.<br />- Hum...<br />- Porra, essa ambulância não chega logo...<br /><br />- Tá muito longe?<br />- Não, falta pouco.<br />- Aqui o trânsito é sempre assim?<br />- Não, é que tá em horário de pico.<br />- Entendi. É que na minha cidade nunca fica assim. Ainda não me acostumei, sabe?<br />- Sei sim. Lugar tranqüilo, né?<br />- É.<br />- Muito acidente?<br />- Nada.<br />- Então você nunca pegou nada sério?<br />- Não. Terminei o curso agora pouco também.<br />- Sei... vê se fica esperto então.<br />- Como assim?<br />- Muita gente fica desesperada nos primeiros casos. O sangue e tal.<br />- Eu vi muito sangue nas aulas.<br />- É, mas não tinha ninguém embaixo dele implorando pra você salvar sua vida.<br />- ...<br />- Mas fica calmo. A gente faz o que pode.<br />- ...<br />- Embora nem sempre possa algo...<br /><br />- Olha lá quanta gente!<br />- Vamo lá ver?<br />- Minha mãe disse que não posso...<br />- A minha também.<br />- Por que?<br />- Não sei, disse que não era coisa pra criança tá vendo.<br />- Mas você não quer ver o que é?<br />- Não sei. Fiquei com um pouco de medo.<br />- Então deixa.<br />- É, vamo brincar.<br />- De que?<br />- Polícia e ladrão!<br />- É, é!<br />- Tá bom. Quem vai ser polícia?<br />- Eu quero ser ladrão!<br />- Eu também!<br />- Ladrão!<br />- Tá, então eu sou polícia. Mas depois a gente troca, viu?Lucashttp://www.blogger.com/profile/00485085066318740802noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-3420475917376518413.post-91951677002821011922010-03-14T18:34:00.001-07:002010-03-14T18:34:07.796-07:00Coluna Social<p><em>Rua Pop</em>, com Geyse Noinha</p> <p><a href="http://lh6.ggpht.com/_Mr2LJmFAxeg/S52OCqKmmOI/AAAAAAAAAJc/Pd4dYyhD148/s1600-h/geyse%20noinha%5B2%5D.jpg"><img title="geyse noinha" style="border-right: 0px; border-top: 0px; display: inline; border-left: 0px; border-bottom: 0px" height="177" alt="geyse noinha" src="http://lh3.ggpht.com/_Mr2LJmFAxeg/S52OPCElezI/AAAAAAAAAJg/cGmfqPwc0EM/geyse%20noinha_thumb.jpg?imgmax=800" width="244" border="0" /></a> </p> <p>Olá a todos queridos e queridas, começaremos hoje o <em>Rua Pop</em>, a mais nova coluna social que deixará todos os fascinados pelo mundo da alta sociedade marginalizada por dentro das últimas fofocas e notícias. Eu sou Geyse Noinha e acompanharei vocês nesta viagem es-pe-ta-cu-lar! Beijinhos, e não deixem de me acompanhar!</p> <p><strong>Criador Pego no Sono!!!</strong></p> <p><a href="http://lh6.ggpht.com/_Mr2LJmFAxeg/S52OQK647aI/AAAAAAAAAJk/72SP2t6fCjU/s1600-h/pedro%20rabujo%5B2%5D.jpg"><img title="pedro rabujo" style="border-right: 0px; border-top: 0px; display: inline; border-left: 0px; border-bottom: 0px" height="182" alt="pedro rabujo" src="http://lh3.ggpht.com/_Mr2LJmFAxeg/S52ORbug8lI/AAAAAAAAAJo/IJ8kl_neW2w/pedro%20rabujo_thumb.jpg?imgmax=800" width="244" border="0" /></a> </p> <p><strong>Pedro Rabujo</strong>, um dos mais badalados criadores de vira-latas da cidade, foi pego tirando um cochilo com seus bichinhos. Eles aproveitaram o cansaço da falta de comida e cairam no sono debaixo de uma sombrinha. Ai, isso não é fofíssimo, gente?</p> <p><strong>Especialista em Bebida dá Aula de Cachaçada!!!</strong></p> <p><a href="http://lh5.ggpht.com/_Mr2LJmFAxeg/S52OSiRdwgI/AAAAAAAAAJs/aPLsl_QQEhs/s1600-h/maria%20das%20dores%5B2%5D.jpg"><img title="maria das dores" style="border-right: 0px; border-top: 0px; display: inline; border-left: 0px; border-bottom: 0px" height="220" alt="maria das dores" src="http://lh3.ggpht.com/_Mr2LJmFAxeg/S52OhO0hLvI/AAAAAAAAAJw/tXfJLXzbeBQ/maria%20das%20dores_thumb.jpg?imgmax=800" width="244" border="0" /></a> </p> <p>Nossa queria <strong>Maria da Dores</strong>, especialista em encher a cara, foi convidade para dar uma palestra de como passar o dia todo bebendo numa reunião da Sociedade dos Alcoolatras. De quebra, foi convidada para dar um minicurso sobre degustação de cachaça barata! Tá podendo, hein, Maria?!?!</p> <p><strong>À Margem da Moda</strong></p> <p><a href="http://lh3.ggpht.com/_Mr2LJmFAxeg/S52OiVgYhFI/AAAAAAAAAJ0/daI_8ZJCes0/s1600-h/z%C3%A9%20do%20furo%5B2%5D.jpg"><img title="zé do furo" style="border-right: 0px; border-top: 0px; display: inline; border-left: 0px; border-bottom: 0px" height="184" alt="zé do furo" src="http://lh3.ggpht.com/_Mr2LJmFAxeg/S52OjeMs97I/AAAAAAAAAJ4/N7Xxbso5o74/z%C3%A9%20do%20furo_thumb.jpg?imgmax=800" width="244" border="0" /></a> </p> <p>Nessa sessão do <em>Rua Pop</em> nós mostramos membros da Sociedade vestidos com o que conseguiram recolher pelos becos. Para inaugurar, o queridíssimo <strong>Zé do Buraco</strong> vestindo um touca branca recém jogada fora, vê-se logo que não está muito encardida. A camisa aberta no peito dá um ar masculino conservador, ainda mais com esse bege sóbrio que combina com a calça verde de enfermaria. As meias pretas, essenciais para se aguentar o frio nos pés, quebram um pouco as cores anteriores, mas mantém o estilo de juntar tudo o que você conseguir recolher o mais facilmente. Chiquérrimo.</p> <p>Espero que tenham gostado nas novidades. Aguardamos sua visita sempre, e se possível, se não for fazer falta, deixando alguns trocadinhos na canequinha. Beinjinhos!!!,</p> <p>Geyse Noinha.</p> <p>___________________________________________________</p> <p>PS: A ideia do negócio não é minha, mas do meu amigo <a href="http://www.vibeflog.com/odhgaleria">Osvaldo</a>. Nem sei se ele lembra dessa ideia, mas ainda tinha que citar os créditos, né? Abração, Odh!</p> Lucashttp://www.blogger.com/profile/00485085066318740802noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-3420475917376518413.post-66002101801006803192010-02-18T13:27:00.001-08:002010-02-18T13:27:56.098-08:00Mais um baile de carnaval<p align="justify">Seu João era um homem desses que levavam a vida como quem assina pontos: um movimento monótono no início do dia, indicando que o começava, e um outro no final, para deixar claro que o terminava. O resto do tempo era como um imenso arrastar-se entre esses dois momentos, preenchido com a burocracia dos empregos em repartições públicas. Não era à toa, já que a veia cômica da vida quase sempre insiste em manter-se pelos lados da ironia, que Seu João tirava o pão de cada dia trabalhando em um cartório, assinando linhas, carimbando papéis, abrindo firmas, catalogando arquivos, bebendo cafezinhos e fumando cigarros. E a tal ponto vivia Seu João entrosado com essa vida, que ele há muito tempo não conseguia demarcar um limite claro entre seus afazeres pessoais dos afazeres públicos, como se a burocracia do mundo dos arquivos tivesse se infiltrado no seu cotidiano, separando por ordem alfabética, cronológica, ou outra importância, cada um das ações de Seu João, numa sequência certa e sem nenhuma possibilidade de alteração, com pena de tomar uma ação judicial de algum órgão que não sabia muito bem qual era e quem representava.</p> <p align="justify">Mas como toda repartição, a vida de Seu João também tirava suas férias e permitia que o sujeito mudasse sua rotina por alguns dias. Essas férias sempre aconteciam no carnaval, provavelmente para deixar com que outros seus joãos por aí fizessem o mesmo, aproveitando tudo num pacote que garantia um descanso muito maior a todos. Era só nesse período que Seu João podia inverter tudo o que era lei e brincar de ser alguma coisa que nunca poderia ser no dia-a-dia. Assim, a cada carnaval, Seu João deixava de ser ele mesmo e se transformava em pirata, bombeiro, zorro, palhaço, cavaleiro, centurião, padre, hippie, astronauta, soldado, marinheiro, zebra, carateca ou qualquer outra coisa que pensasse e conseguisse criar, e pulava os dias da maior festa do mundo junto com outras pessoas que eram ao mesmo tempo idênticas e completamente diferentes dele mesmo.</p> <p align="justify">Essa história, que se repete e se repetiu e se repetirá inúmeras vezes em toda a parte onde existam carnavais, não mereceria ser contada, por já ser um clichê da marca mais vendida e comprada, se, por um acaso, Seu João não tivesse passado por um momento de pouca criatividade na hora de escolher sua próxima fantasia para o carnaval que já se aproximava. Pois se já tivesse certo do que iria se tornar em pouco tempo, não teria se deixado influenciar pelo que filme que viu de relance enquanto mudava de canais sem compromisso durante um dos seus momentos pré-progamados. O filme em questão contava a história de um cientista que criara um carro que voltava no tempo e era um clássico do pipocão cinematográfico, gênero adorado por muitos, Seu João aí no meio. Achou um tema interessante pra se fantasiar, e quando o carnaval começou, Seu João já era o cientista maluco que viajava pelo tempo, de jaleco e tudo.</p> <p align="justify">Mas, se a pouca criatividade de Seu João foi o primeiro golpe da enxada que começava a nova trilha, é agora que tudo começa a realmente caminhar pelo caminho recém-inaugurado. Pois foi quando Seu João entrou no seu carro para dirigir até o ponto onde costumava brincar o carnaval todos os anos, que teve a idéia maluca, provavelmente porque era agora um cientista louco. Parou um tempo com a testa franzida, como se considerasse o que estava para fazer, e ficou alguns instantes pensando. Quando por fim tomou sua decisão, marcou numa tela imaginária uma data, encostou-se no banco, colocou o sinto de segurança e voltou no tempo para brincar um antigo carnaval.</p> <p align="justify">Desde então Seu João passa a vida toda voltando no tempo para brincar antigos carnavais. Sempre que acaba um, ele marca na sua tela imaginária uma data e começa tudo novamente. Ele nunca vai para o futuro, pois tem medo de que chegue numa época em que o carnaval não exista mais. Por isso prefere a segurança do passado, onde pode ter certeza de que sempre poderá ser um palhaço, um detetive, um zorro ou um cientista maluco o tempo que puder.</p> <p align="justify">Muitas pessoas depois de tomarem conhecimento dessa história extraordinária se perguntam por que diabos o Seu João, se teve a capacidade de voltar no tempo, simplesmente não modificava sua vida de forma a torná-la tão agradável quanto ele quisesse. O que essas pessoas não conseguem entender é que o que o Seu João fez foi menos compreender como funciona a realidade do que aceitar que o que se vive é a ilusão.</p> <p align="justify"><em>NOTA: Esse texto não ficou muito bom, mas eu meio que me senti na obrigação de escrever alguma coisa que tivesse a ver com o carnaval. Ele é meio que uma prova, já que eu o idealizei e escrevi muito rapidamente, de que escrever é muito mais do que simplesmente colocar palavras num papel. É também uma prova de que, mesmo detestando essa festa, é meio difícil fugir da epidemia carnavalesca. XD</em></p> Lucashttp://www.blogger.com/profile/00485085066318740802noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3420475917376518413.post-86744268143526649242010-02-04T22:05:00.000-08:002010-02-04T22:16:57.030-08:00FraternidadeA porta está destrancada quando eu chego. Ao abri-la, um vento de coisa azeda bate no meu rosto, e viro a cara pro lado, fugindo. Alguns minutos são precisos pra que eu me acostume com aquilo, e só depois eu realmente entro na sala, procurando um pouco de luz. Parece que não há interruptores. Abro a janela e deixo o sol invadir o cômodo, denunciando uma sujeira de séculos sem faxina. Séculos incontáveis. Marmitas vazias, talheres jogados, roupa largada, garrafas de bebida vazias, e difícil andar sem pisar em lixo. Não chamo por seu nome, faz silêncio e procuro saber se há algo a ser escutado. Tenho medo de que não haja: isso significaria que. Ando mais rápido, pisando no silêncio, até o quarto, e escuto sua respiração pesada, preguiçosa. Ele está deitado na cama, sem camisa e de jeans, os braços estendidos, envolto em sujeira. Sujo, descartável, morte. Passo alguns segundos parado, olhando para ele, pensando em toda aquela sujeira, em toda aquela merda entrando nele, em toda a morte que existe lá jogada, no chão e na cama. Deve correr rápida, ela. Ele, lento. Dormindo. Estou parado olhando pra ele, procurando alguma voz pra puxar de lá de dentro, e só depois de alguns segundos é que eu digo ei. É baixo, ele não olha. Ei, eu digo de novo, mas agora parece que achei um pouco mais de voz e ele se mexe cerrando os olhos com força antes de abri-los e olhar pra mim com o seu olhar cinza. Nem preto nem branco nem morte nem vida. Ele sorri e diz ei você garoto e sorri. Eu não sorrio, mas ele não pára. Ainda sorrindo ele diz eeeei garoto e tenta se levantar, mas não consegue. Se vira de lado e me olha, algo como profundamente, nem vida nem morte, e não consigo manter suspenso um silêncio tão pesado: ei, eu digo pro meu irmão.<br /><br />Eu sabia que era meu irmão quando eu me viro porque eu sabia que esse ei era de alguém da família e sabia que só quem brilhava na família era meu irmão. E foi por isso que eu saí daquele sonho esquisito com padres e montanhas geladas porque eu sabia que aquele ei só podia ser do meu irmão, mesmo que eu tivesse ainda visto ele brilhando ali parado na entrada do quarto. Eu sabia que era meu irmão porque eu me lembrei que eu costumava sair dos sonhos que eu tinha quando era mais novo e a gente dormia no mesmo quarto e ele vinha com esse ei pra me acordar quando tinha um pesadelo. Era o mesmo ei a mesma voz só um pouco mais velha. Mas a confiança é a mesma. Então eu sabia que era ele quando eu me viro e respondo ei garoto e é ele mesmo brilhando ali parado na porta<br />Ei e eu lembro dele pequeno parado do lado da minha cama dizendo tive um pesadelo não consigo dormir. E eu dizia ei garoto deixa disso você não sabe que eu sou ninja tá com medo de que? Ninja? É rapaz você não viu os meus nuntchacos ali pendurados? Mas eles são de brinquedo Ti... Não são não são de verdade e eu estou pronto pra usá-los contra qualquer bandido ou monstro que apareça por aqui então você pode ir dormir sem medo Gui porque eu tô aqui sempre com minhas técnicas ninjas e meus nuntchacos ninja e meu chute ninja em qualquer palhaço que se atrever a mexer com meu irmãozinho e aí eu salvava ele que dormia sossegado finalmente<br />E ele nem desconfia que agora era ele quem me salvava com aquele ei me tirando do pesadelo horrível com os padres e seus chicotes de fogo e sua culpa. Sim, não eram mesmo montanhas geladas era a culpa imensa e o chicote de fogo que queima igual ao que eu pensei ser gelo. Pensei que fosse e meu irmãozinho Guilherme me salva daquilo e é por isso que eu estou sorrindo quando digo eeei garoto porque ele meu garoto nem sabe que agora era ele quem salvava o irmãozinho mais velho cheio de decadência e sujeira correndo por dentro que ironia<br />Agora é ele meu cavaleiro brilhante que parece que veio me salvar dos sonhos maus mas ele nem sabe que não pode me salvar meu cavaleiro brilhante de tudo porque ele não sabe porque eu mesmo não sei se há algo ainda a ser salvo se ainda há algo.<br /><br />Com cuidado e paciência eu consigo levantá-lo da cama e vamos andando até a cozinha, ele apoiado em mim, o braço por cima dos meus ombros. Tudo está tão sujo que me sinto levando um ferido em combate, desviando dos campos minados, sem muita esperança no que nos aguarda no final do caminho. É uma comparação horrível e me sinto envergonhado de tê-la criado, mas não consigo pensar em outra coisa. O momento é horrível.<br />Sento ele numa das cadeiras da mesa da cozinha e jogo no chão, com um movimento brusco, o lixo que se acumulava por cima dela. Mesmo com a velocidade, ele não se assusta quando passo a braço com brutalidade. Os olhos vazios, ou tão cheios, não sei, continuam do mesmo jeito mirando fantasmas de vento. Onde foi parar toda aquela inteligência? Lembro-me de tantas coisas que se podia ver por detrás do seu olhar, tantos mundos sendo descobertos a toda hora, e agora parece que ele não sabe nem o que já foi descoberto, até pelos outros. Sento ele e olho ele e penso em tudo isso e que devo fazer um café, que talvez o acorde, ou que talvez me acorde, porque nem eu sei mais se estou vendo o que vejo ou o que vi. <br />Café, sim, adoraria um café, ele diz sorrindo quando sobe o cheiro da água quente se fundindo com o pó, e eu coloco a xícara na frente dele e me sento com a minha. Ele sorri, bebe, e parece mais lúcido. Não pode ter sido o café. Talvez tenha sido eu. Não pergunto, mas olho para ele e ele parece mais lúcido, pensando, ele de volta, não sei. <br />Mamãe está preocupada, digo. Humm, ele murmura, mas não me olha, fica ainda pensando, será que é ele mesmo de novo? Ela chora de vez em quando, digo. Parece que fica se lamentando quieta, mas às vezes ela fala, e quando fala às vezes chora. Ela se arrepende muito. Acha que você vai morrer. Humm, ele murmura, os olhos nos fantasmas. Papai também se arrepende, digo, e agora ele me olha. Me olha com o canto do olho, não sei se com dúvida ou com raiva, mas agora ele sorri, o que me leva a concluir que ele me olha na verdade é cheio de ironia. Se arrepende, é, ele pergunta, como uma faca. É, se arrepende, eu digo, e até queria que você voltasse. <br />Agora ele me olha diretamente, passando por dentro de mim, não me julgando, mas me sabendo. Queria que eu voltasse, ele pergunta. Porra Guilherme, depois de todo esse tempo e você ainda fica nessa de acreditar nele? Ele não quer que eu volte, ele mandou que eu saísse pra sempre, e o pra sempre dele é pra sempre. Ele não se arrepende de nada, ele apenas diz isso porque não agüenta ela chorando e incomodando a vidinha perfeita dele que não inclui tristeza muito menos filhos pródigos. Se arrepende. Aquele escroto não se arrepende de nada, ele diz que quer que eu volte porque sabe que não vou voltar, porque sabe que eu vou morrer e isso vai acabar logo, porque o pra sempre dele é pra sempre. Dizer é sempre o primeiro e mais óbvio e mais fácil remédio, ele sabe. Mamãe chora, ele nem liga pra ela, liga pras lágrimas. Não vou voltar pra lá, ele sabe, ele não quer.<br />Não é verdade, digo, irritado. Você não tá lá, Tiago, você não sabe de nada.<br />Não sei, ele diz, também irritado. É, eu não sei de nada e estou morto. Não sei de nada e por isso é que eu saí de lá, e por isso estou morto, e por isso é não volto pra lá.<br />Ficamos calados, gastando a irritação. Ele porque, apesar de tudo, diz que está errado. Eu porque, apesar de tudo, sei que está certo.<br /><br />Eu saí porque não sabia de nada e porque não sei de nada estou morto e por isso não volto pra casa porque nunca soube de nada e era um estúpido<br />Era porque eu não sei de nada que comecei a usar e a me desviar do caminho de deus e do meu pai que afinal de contas são o mesmo deus senhor de tudo e de todos. Se eu soubesse eu não teria tentado cortar o caminho que meu deus me traçou e agora se eu soubesse eu estaria vivendo uma vida correta e não haveria o lixo e se eu soubesse eu ainda estaria vivendo debaixo do teto do templo de deus e aí cara seria tudo de bom e eu seria feliz e grato sacrificando cordeiros e se eu soubesse<br />E se eu soubesse eu ainda teria os beijinhos e o café da manhã na hora e o cobertor quentinho no inverno e fresquinho no verão e a grama crescendo verde debaixo da água da chuva que cairia só pra ela ficar mais bonita e alegrar ainda mais deus e se eu soubesse eu teria aquele carrão fodido quando passasse no vestibular e poderia me contentar com aqueles uísques escoceses e velhos e tudo que são muito bons e honestos e trabalhadores e a roupinha passadinha e o suéter no natal pro menino jesus e se eu soubesse se<br />E se eu soubesse eu não teria me aventurado e nem seguido aquelas pessoas que se eu soubesse nem seriam tão geniais e livres assim e então se eu soubesse eu não teria beijado o lixo e nem trepado com o lixo e nem me apaixonado pelo o lixo e nem casado com o lixo e tentaria seu eu soubesse me divorciar com o lixo antes que o lixo começasse a feder e a atrair os urubus e os ratos e as baratas e as moscas e se eu soubesse eu não teria deixado acumularem as pragas eu saberia<br />E se eu soubesse eu estaria vivo e voltaria pra casa pra parar com as lágrimas da minha mãe e a preocupação do meu pai porque eu saberia que eu deveria voltar pra casa porque no fim das contas todo deus quer ter sua própria parábola de filho pródigo e eu estaria vivo se eu soubesse<br />E se eu soubesse eu teria de volta o que eu deixei perder e haveria uma festa e não haveria mais lixo nem pragas e haveria uma família e uma ordem e eu teria meus direitos e deveres de fiel e no final eu teria garantida a salvação da minha alma eterna e eu não estaria morto se eu soubesse<br />Mas não eu não sei.<br /><br />Nos sentamos no batente da frente da casa, a porta aberta, a luz do sol bem clara em nossas pernas esticadas. Fumamos, cada um com sua carteira, sua marca preferida de se acalmar com doença, cada um com seu silêncio. No entanto, parece que no meio dessa distância toda nós conseguimos ficar íntimos de novo, parece que somos irmãos de novo, nessa bobagem de fumar um cigarro no batente. Nos olhamos e sorrimos, porque sabemos. Ele tem aquele jeito lerdo de fumar, soltando a fumaça em baforadas curtas, como quem aproveita todo aquele gosto ruim de se matar por prazer. E olha para as pernas pálidas, o sol tornando-as meio brilhantes, e sorri pensando talvez que está se bronzeando finalmente. Esse é meu irmão, eu o reconheço agora, com seu jeito tolo de perceber que faz as coisas sem pensar. Sem pensar, mas com uma honestidade que nunca encontrei em nenhuma outra pessoa em canto algum.<br />Lembro daquela vez quando éramos crianças e eu jogava bola num terreno baldio junto com os outros meninos de perto de casa. Um hora chegou Gregório, menino grande, mimado e mandão, com tênis novos que mostrava pra todos querendo arrecadar invejas. Tênis novos, grandes pro menino grande, caros pro menino mimado, mas que não serviam pro menino jogar bola no terreno baldio que iria sujar os tênis. Ele os tirou com cuidado, desamarrando cada cadarço durante horas, num movimento tão articulado que parecia estar atuando num comercial de tv. Quando Gregório finalmente tirou os tênis, colocou-os de lado, exigiu que o deixassem jogar e disse que eu iria ficar de fora porque os times estavam completos, porque eu era o pior de todos e porque eu era gayzinho. Ninguém me defendeu, Gregório riu com satisfação de quem se descobre rei, e foi jogar bola com todos, me deixando ali sozinho e segurando as lágrimas. Meu primeiro pensamento foi voltar pra casa chorando, mas logo em seguida tive outro. Peguei os tênis caros do garoto grande e arremessei-os com toda a força dentro de um matagal espinhoso que ficava ao lado do terreno. Vingança comida, voltei pra casa e fui brincar com Tiago.<br />Algum tempo depois chegou Gregório puto da vida dizendo que eu tinha roubado os tênis novos dele. Tiago disse que ele não podia me acusar assim, e ele disse que tinha certeza disso. Meu irmão perguntou a verdade pra mim e eu nunca soube mentir, confessei tudo ali mesmo. Gregório ficou ainda maior quando disse que se eu não pegasse os tênis de volta ele contaria tudo ao meu pai, que, apesar de ter o dinheiro para pagar os tênis, me daria uma surra por ter mexido com a propriedade alheira sem permissão. Mas Tiago ficou calmo e disse que daria um jeito, sem que ninguém tivesse que sair machucado.<br />Então ele foi lá no matagal e entrou atrás dos tênis do menino grande e rei. Entrou até o fundo, pois eu tinha jogado os tênis com toda a força, até que sumiu. Quando voltou estava todo cortado pelos espinhos, o que me fez lembrar de Jesus crucificado com aquele sangue na cabeça por causa da coroa que eu via toda vez que ia na igreja. E enquanto Tiago dizia que eu não iria fazer aquilo novamente, Gregório observava o tênis pra ver se tinha algum arranhão, e encontrou alguns. Mas quando ia dizer alguma coisa, olhou pra Tiago mas não sei que expressão meu irmão tinha no rosto para que o menino-rei mudasse de idéia e fosse embora dizendo que estava tudo certo. <br />Era assim que eu via Tiago, como Jesus que sangrou nos espinhos para salvar seus irmãos. E agora que eu me lembro disso, fico me perguntando como eu pude esquecer. E esquecer me fez perceber o quanto eu já sabia da verdade disso tudo, e que eu sei que meu irmão está certo. Ele sabe, sempre soube, embora tenha errado consigo mesmo. Porque meu irmão sempre foi um salvador, um jesus sincero, e não um imbecil ingrato. Eu sei, ele sabe, mas eu deveria ter dito isso.<br />Ei, eu digo. Você estava certo. <br />Como, ele pergunta.<br />Você estava certo, cara. Você sabe sim, e eu sei também.<br />É, ele sorri, e eu sorrio também. E ficamos ali, sentados, sorrindo e fumando, como Jesus e seu irmão mais novo, nós.<br /><br />Guilherme, Guilherme é meu irmão mais novo ele tem 4 anos a menos do que eu portanto eu sei 4 anos mais coisas do que ele. Guilherme fumava comigo e agora ele foi comprar comida pra gente porque não tem o que comer mais aqui em casa porque eu não como mais. Meu irmão mais novo vai me alimentar<br />Guilherme é meu irmão mais novo e eu o chamo de Gui porque é um diminutivo carinhoso pra um menino menor do que eu que eu amo e ele me chama de Ti porque ele aprendeu a falar só essa parte do meu nome quando era pequeno e então ele se acostumou com isso e todos nós nos acostumamos com isso porque é fácil se acostumar com um irmão chamando o outro com um diminutivo que é bonitinho e mostra que eles se amam<br />Gui é Guilherme é meu irmão mais novo é aquele que me disseram que eu tinha que proteger sempre porque eu sabia 4 anos a mais que ele e era 4 anos mais forte do que ele e por isso eu tinha aquela coisa de responsabilidade e tal mas eu sempre soube desde que o vi pequeno chorando no berço que ele era meu irmão mais novo que eu deveria proteger sempre porque eu o amava desde sempre. E não precisava que você pai, deus, me dissesse isso porque você nunca soube o que era cuidar de verdade de ninguém e eu sempre soube<br />Eu sempre soube e por isso eu fiz o melhor que pude pra cuidar dele. E é por isso que eu fui embora quando o lixo ficou muito grande porque eu não podia esconder todas aquelas pragas que me seguiam o tempo todo e eu não podia deixar que ele sentisse o cheiro fétido e doce eu não podia arriscar meu irmão nisso. Talvez ele não tenha entendido talvez nunca venha a entender mas sei que fiz o que era certo e o que sempre me foi confiado a fazer<br />Mas sei que nada é tão simples e que em parte fugi porque eu sempre soube que meu irmão brilhava dentre todos daquela religião que chamam de família era ele o único que era realmente um anjo. Fugi porque eu sentia vergonha de ser o que eu era perto de alguém como Guilherme porque seu brilho me cegava eu que vivia o tempo todo nos buracos do homem fugi porque eu já não tinha 4 anos a mais do que ele e assim eu não podia ser mais nada pra ele<br />Mas ele veio aqui pra me buscar e me sorrir e me comprar comida e me trazer de volta de um mundo que eu não tenho mais como sair. Ele me seguiu e me encontrou mas não sabe que não pode ser tudo como antes não sabe que não posso mais protegê-lo e que ele não pode cuidar de mim sem que eu possa cuidar dele também porque as coisas são assim desde que nascemos como irmãos e se não continuarem como são não podem ser mais nenhuma outra coisa<br />Então eu sorrio e sei que só posso fazer tudo igual. A mesma fuga de antes. Porque essa é a única forma que posso protegê-lo e que ele pode me proteger de verdade meu cavaleiro brilhante<br />Por isso volto pro meu quarto e preparo a maior quantidade de lixo que tenho e tomo tudo aquilo de um só gole deixando todo ele correr livre por dentro de mim me levando pra onde eu não poderei nunca mais cheirar mal e atrair pragas pra perto do meu irmão e de ninguém mais<br />E só assim eu serei sincero em protegê-lo de tudo <br />Uma última vez, pra sempre.Lucashttp://www.blogger.com/profile/00485085066318740802noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-3420475917376518413.post-88875076766497925062010-01-03T10:16:00.001-08:002010-01-03T10:16:47.559-08:007 dias<p align="justify">Todos os dias ela estava lá na praça, várias folhas de papel e uma caixa enorme de giz de cera, fazendo desenhos que eu só via de longe. Ao meu redor, a natureza brincava com meu humor, cinza, como num livro romântico ou um folhetim brega de banca de revista. Nessa época eu andava naquele estado de morbidez dos que não conseguem encontrar as cores na vida, e talvez por isso que ela tivesse me chamado atenção, com todos aqueles desenhos numa praça pobre e fria. Sozinha, sempre. Talvez os pais fossem vagabundos, alcoólatras, irresponsáveis ou tudo isso junto, o que era mais do que comum naquele bairro, quase com os dois pés na regra. A mim ela parecia abandonada, embora não parecesse ligar muito para isso, cantarolando baixinho musiquinhas contentes enquanto corria com o giz pela folha. Era uma espécie de felicidade solitária, eu pensava, o que me fazia refletir sobre minha própria situação e quão patético eu era, gastando dias num banco amargo de uma praça feia. </p> <p align="justify">Acho que ela notava que eu a observava todos os dias, e nessa relação tão distante acabou surgindo alguma intimidade que só ela havia notado. Deve ter sido por isso que ela me chamou para tomar conta dos seus papéis e gizes enquanto iria atender um chamado da mãe. Perguntei por que ela não levava tudo junto consigo, e ela respondeu que não gostava de mexer num desenho que não tinha terminado ainda. Sorriu enquanto ia e eu sorri também, sem saber muito bem o porquê. Durante sua ausência pude olhar melhor seu desenho, um sol bem amarelo sorrindo esbaldado num campo azul. Faltava muito pouco para ser terminado, eu pensei, só mais umas corezinhas em alguns cantos, e tudo estaria pronto. Senti vontade de eu mesmo pegar no giz azul e terminar aquele céu, mas achei a idéia ridícula, terminar um desenho de uma criança. Você podia pintar também, surpreendeu-me ela quando chegou, e eu disse que não, tudo bem, o desenho era dela mesmo. Ela se sentou e começou a desenhar, enquanto eu fiquei ali observando o céu terminar de nascer. Você está doente, perguntou a menina, e eu perguntei por que. Ela disse que eu tinha cara de doente ou de triste, e eu sorri torto pensando que provavelmente ela estava duplamente certa. É difícil sentir-se bem e sorrir num dia tão cinza, você não acha, perguntei eu. Ela respondeu como quem não tivesse entendido muito bem a pergunta, ah, é por isso, e então tirou o desenho do papel e o sol sorriu lá em cima esbaldado num campo azul.</p> <p align="justify">Surpreso eu perguntei como ela tinha feito aquilo, e ela disse que não era tão difícil quanto parecia, que quando a gente desenha é como se fosse Deus criando o mundo em 7 dias, era só preciso mudar um pouco o lugar onde você desenhava. Achei aquilo bonito e perguntei se ela fazia isso sempre. Ela falou que pouco, gostava mais do papel dela porque era só dela, e então as pessoas não podiam falar mal de seus desenhos. Achei seu desenho lindo, falei. Ela sorriu e eu também, e dessa vez eu sabia o porquê. Nos tornamos amigos.</p> <p align="justify">Eu continuava indo todos os dias à praça vê-la desenhar, mas agora sentava ao seu lado. Nada de excepcional havia em seus desenhos, eram iguais aos de qualquer criança na idade dela. Mas talvez por ser a única criança que eu tinha realmente uma amizade verdadeira, eu os achava lindos, e sempre que eu dizia que algum dos desenhos havia me agradado particularmente, ela tirava o desenho do papel e colocava no mundo, tornando aquela praça cinza e feia um pouco mais agradável, com pássaros voadores, tartarugas preguiçosas, unicórnios galopantes, flores perfumadas, sereias cantarolantes e árvores lotadas de frutas. </p> <p align="justify">Mas um dia eu estava indo para a praça e ouvi barulhos altos, como se soltassem fogos de artifício. Logo depois vieram os gritos e as pessoas correndo em minha direção. Por alguns segundos senti meu coração parar e o ar desaparecer ao meu redor, como se tivesse morrido um pouco, mas logo depois avancei desesperadamente em direção à praça. Ninguém. Só um balanço se movendo, pegadas da areia, um vento frio soprando fraco e manchas de sangue em no banco. E, reinando absoluto, o silêncio.</p> <p align="justify">Voltei na praça no outro dia e estava isolada pela polícia. Nenhum dos homens da lei quis me dizer o que havia acontecido, nem quem tinha se ferido, muito menos se haviam mortos. Vai atrapalhar as investigações, explicaram-me eles. Talvez alguém tenha realmente atrapalhado, pois dias depois eles liberaram a praça sem chegar a nenhuma conclusão oficial para o caso, que, apesar disso, continuaria sendo investigado dentro de gabinetes e folhas de papel, estas sem nenhum desenho colorido. </p> <p align="justify">Agora que a praça estava liberada, provavelmente as pessoas voltariam a freqüentá-la, já que não tinham mesmo muitas opções de lazer naquele bairro. Violência está em toda parte, pensei, nem em casa se está mais protegido. Resolvi comprar novos gizes e folhas para minha amiga, pois era bem capaz que ela tivesse perdido os seus durante a confusão. Mas, para minha surpresa e decepção, ela não estava lá. Perguntei para as outras pessoas se alguém sabia do paradeiro da menina, mas ninguém soube dizer. Não a conheciam e nem aos pais dela. Só pude, então, sentar-me no mesmo lugar onde ela se sentava, segurar o presente nas mãos, e esperar que ela voltasse algum dia.</p> <p align="justify">E esperei. E passei muito tempo até me convencer que ela não viria mais. Nesse dia o céu estava cinza, e a praça feia e vazia. Abri o bloco de papel que havia comprado para dar de presente, peguei alguns gizes de cera e comecei a desenhar. Quando terminei, tirei a praça colorida do papel e coloquei no lugar da antiga. </p> Lucashttp://www.blogger.com/profile/00485085066318740802noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-3420475917376518413.post-8053833368237548182009-12-05T14:17:00.001-08:002009-12-05T14:19:13.579-08:00Rage!!<p>Já era pra eu ter postado há mais tempo!!</p> <p><a href="http://lh3.ggpht.com/_Mr2LJmFAxeg/SxrbzyHdnoI/AAAAAAAAAIk/2rdcV9uSGi4/s1600-h/rage4%5B2%5D.jpg"><img title="rage4" style="border-right: 0px; border-top: 0px; display: inline; border-left: 0px; border-bottom: 0px" height="226" alt="rage4" src="http://lh5.ggpht.com/_Mr2LJmFAxeg/Sxrb1eWNwrI/AAAAAAAAAIo/WOAqSGzAjxE/rage4_thumb.jpg?imgmax=800" width="244" border="0" /></a></p> <p><a href="http://lh6.ggpht.com/_Mr2LJmFAxeg/Sxrb3CTjs7I/AAAAAAAAAIs/hGRqcGznqFI/s1600-h/rage5%5B2%5D.jpg"><img title="rage5" style="border-right: 0px; border-top: 0px; display: inline; border-left: 0px; border-bottom: 0px" height="233" alt="rage5" src="http://lh5.ggpht.com/_Mr2LJmFAxeg/Sxrb4nKoRsI/AAAAAAAAAIw/eOCUkRyzhdQ/rage5_thumb.jpg?imgmax=800" width="244" border="0" /></a></p> <p><a href="http://lh5.ggpht.com/_Mr2LJmFAxeg/Sxrb6JeiMTI/AAAAAAAAAI0/zd1EJRAEmSA/s1600-h/rage6%5B2%5D.jpg"><img title="rage6" style="border-right: 0px; border-top: 0px; display: inline; border-left: 0px; border-bottom: 0px" height="244" alt="rage6" src="http://lh5.ggpht.com/_Mr2LJmFAxeg/Sxrb7V-hUcI/AAAAAAAAAI4/TtiQcy1Zolg/rage6_thumb.jpg?imgmax=800" width="189" border="0" /></a>  </p> <p><a href="http://lh6.ggpht.com/_Mr2LJmFAxeg/Sxrb9IlLk5I/AAAAAAAAAI8/-HL6xn8y7bY/s1600-h/rage7%5B2%5D.jpg"><img title="rage7" style="border-right: 0px; border-top: 0px; display: inline; border-left: 0px; border-bottom: 0px" height="231" alt="rage7" src="http://lh6.ggpht.com/_Mr2LJmFAxeg/Sxrb-eHyD-I/AAAAAAAAAJA/EbDQYJozFh8/rage7_thumb.jpg?imgmax=800" width="244" border="0" /></a> </p> <p>Nietzsche 0 x 4 Padre Bonitão.</p>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00485085066318740802noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-3420475917376518413.post-87905447200960168702009-11-29T08:42:00.001-08:002009-11-29T08:51:25.282-08:0017 PRINCÍPIOS PARA FAZER SUCESSO NA MPB ATUALMENTE<!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" latentstylecount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} /* List Definitions */ @list l0 {mso-list-id:714239250; mso-list-type:hybrid; mso-list-template-ids:1963479512 68550671 68550681 68550683 68550671 68550681 68550683 68550671 68550681 68550683;} @list l0:level1 {mso-level-tab-stop:36.0pt; mso-level-number-position:left; text-indent:-18.0pt;} ol {margin-bottom:0cm;} ul {margin-bottom:0cm;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:#0400; mso-fareast-language:#0400; mso-bidi-language:#0400;} </style> <![endif]--> <ol style="margin-top: 0cm;" start="1" type="1"><li class="MsoNormal" style="">Seja homossexual ou deixe a dúvida no ar.</li></ol> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <ol style="margin-top: 0cm;" start="2" type="1"><li class="MsoNormal" style="">Deixe seu cabelo encaracolar e crescer desordenadamente. Se tiver cabelo escorrido, um permanente será de extrema importância.</li></ol> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <ol style="margin-top: 0cm;" start="3" type="1"><li class="MsoNormal" style="">Se for mulher, imite a Elis Regina; se for homem, imite o Djavan; se fizer música instrumental, imite qualquer ícone do jazz que toque seu instrumento.</li></ol> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <ol style="margin-top: 0cm;" start="4" type="1"><li class="MsoNormal" style="">É sempre importante misturar ritmos, mesmo que sem nenhuma ligação, como maracatu com corais femininos búlgaros. Qualquer coisa com música eletrônica é topo das paradas.</li></ol> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <ol style="margin-top: 0cm;" start="5" type="1"><li class="MsoNormal" style="">Nunca esqueça de largar sua banda quando começar a ficar famoso de verdade.</li></ol> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <ol style="margin-top: 0cm;" start="6" type="1"><li class="MsoNormal" style="">Se for de Pernambuco, toque samba; se for do Rio, toque música de candomblé; se for da Bahia, toque música caipira; de for de Minas, toque forró. Caso alguém pergunte o motivo dessa discrepância, argumente que seu estado tem uma forte tradição nesse tipo de música e que você está tentando resgatá-la.</li></ol> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <ol style="margin-top: 0cm;" start="7" type="1"><li class="MsoNormal" style="">Se não for de nenhum dos estados citados acima, se mude pra um deles e finja que nada aconteceu.</li></ol> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <ol style="margin-top: 0cm;" start="8" type="1"><li class="MsoNormal" style="">Ser apadrinhado pelo Caetano vale ouro.</li></ol> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <ol style="margin-top: 0cm;" start="9" type="1"><li class="MsoNormal" style="">Arrume um nome artístico eficiente. O modelo nome-sobrenome é tiro certo, mas você também pode optar por um nome único, contanto que seja esdrúxulo. </li></ol> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <ol style="margin-top: 0cm;" start="10" type="1"><li class="MsoNormal" style="">Toque sempre com músicos competentes, mas não deixe nunca que eles se mostrem mais competentes do que você.</li></ol> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <ol style="margin-top: 0cm;" start="11" type="1"><li class="MsoNormal" style="">Uma boa maneira de não dar destaque aos músicos é vesti-los todos de preto enquanto você se veste com uma rede com a bandeira do Brasil estampada.</li></ol> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <ol style="margin-top: 0cm;" start="12" type="1"><li class="MsoNormal" style="">Ainda insistindo nos músicos, lembre-se que os melhores adotam sempre a alcunha de apelido + de + artigo definido + instrumento que tocam (ex: Dudu do baixo, Chico do sax, etc.).</li></ol> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <ol style="margin-top: 0cm;" start="13" type="1"><li class="MsoNormal" style="">Diga sempre que é autodidata, mesmo que tenha doutorado em composição pela Universidade de Berlin. Isso fará com que ocorra o seguinte diálogo: - Nossa, esse cara é muito bom!/ - Pois é, e é autodidata!/ Caralho, muito foda!, o que aumentará sua fama.</li></ol> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <ol style="margin-top: 0cm;" start="14" type="1"><li class="MsoNormal" style="">Grave uma versão de Asa Branca ou Garota de Ipanema; gravar as duas em pout pourri será mais eficiente ainda.</li></ol> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <ol style="margin-top: 0cm;" start="15" type="1"><li class="MsoNormal" style="">Seja filho de algum orixá e devoto de algum santo.</li></ol> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <ol style="margin-top: 0cm;" start="16" type="1"><li class="MsoNormal" style="">Se alguém perguntar suas influências cite a música erudita européia, os batuques da periferia de alguma metrópole brasileira, a nouvelle vague, a literatura russa, Heidegger e o curupira, ou quaisquer elementos semelhantes aos citados.</li></ol> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <ol style="margin-top: 0cm;" start="17" type="1"><li class="MsoNormal" style="">Faça uma conta no twitter e no facebook, mas nunca no orkut. Orkut é <i style="">mainstream</i> demais.</li></ol> <p class="MsoNormal" style="margin-left: 18pt;"><o:p> </o:p></p>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00485085066318740802noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-3420475917376518413.post-8099675287440728112009-11-06T14:06:00.001-08:002009-11-29T08:52:09.458-08:00Aprender Mais, Respeitar Menos<p> </p> <ol> <li> <div align="justify">“Afinal, você vem de uma dinastia de professores” e “toda nossa família é de professores: você, seu pai, seu irmão e eu”, foram frases que eu escutei há pouco tempo, pronunciadas por meus pais. Ambas têm em comum o fato de me colocarem no papel de professor, porque, como alguns sabem, iniciei finalmente essa carreira inescapável há pouco tempo atrás. Meu empregador, o Governo do Estado de Pernambuco, achou que eu era capaz de lecionar num projeto chamado Aprender Mais, cujo objetivo é dar aulas de reforço para os alunos com menor desempenho – notas baixas, no bom português. Projeto esse, aliás, que eu sou bastante contra, por vários motivos. Dentre eles, o fato do Estado pagar mais – proporcionalmente falando - aos professores extras (como eu) do que paga aos professores normais; eu acredito que uma das soluções para melhorar o ensino é valorizar o trabalho do professor com, entre outras medidas, aumento salarial, para que assim eles tenham melhores condições materiais, emocionais e ideológicas para trabalhar. Solução tapa-buraco (bem ao jeitinho brasileiro) é contratar mais professores para dar mais aulas, ao invés de procurar melhorar a qualidade das aulas já proporcionadas. Pois é, sou contra o projeto que me garante o salário (que faz 3 meses que não recebo) porque acho que ele é uma grande demagogia – o que talvez me faça, ao contrário do que pensam meus pais, mais um pensador do que um professor. </div> </li> </ol> <ol start="start"> <li> <div align="justify">Tapa-buraco, mas com ares de grandes coisas, como grande parte das soluções que nossos representantes costumam concretizar. Tanto que esses dias fui chamado para participar de uma capacitação destinada aos professores de língua portuguesa do projeto. “Discutir os rumos das nossas aulas”, era o objetivo, pelo que me disseram. Ok, o parece que o Estado resolveu fazer algo de concreto a respeito do projeto, já que nós (professores e alunos) não recebemos material, nem direcionamento, nem mesmo salário. Mas... tapa-buraco é sempre tapa-buraco, não? O local da capacitação me lembrou muito dos meus tempos de outro trabalho – triangueiro no grupo de mamulengo do meu pai -, quando nós fazíamos apresentações nas quadras de escolas da prefeitura, com uma acústica deprimente e um som que mais quebrava o galho do que propriamente funcionava. A diferença era que agora eu estava de frente para o palco, e não em cima dele. Senti pena da capacitadora, lutando com o barulho dos alunos no recreio e com o burburinho dos professores convertidos em estudantes, gastando a garganta com pessoas que não conseguiam escutá-la, mesmo que quisessem. É, me lembrei várias vezes do mamulengo, vendo toda aquela gente que mais parecia bonecos encenando em cima de um palco pobre o triste drama da educação. </div> </li> </ol> <ol start="start"> <li> <div align="justify">A) Em certo momento, senta-se ao meu lado um sujeito que havia chegado atrasado e me pergunta o que aconteceu. “Falaram sobre leis”, digo eu, e ele me pergunta se haviam falado sobre o incentivo ao professor (não falaram); B) uns dois metros na minha frente, uma dona com cara de João Plenário (é, aquele mesmo) faz piada perguntando pelo dinheiro (cena emblemática, penso eu: a cara de personagem de <em>A Praça é Nossa</em> rindo de uma situação miserável remete à falta de graça do programa); C) Um pouco depois a capacitadora fala que virá uma emissora de TV gravar o encontro e que os professores deveriam ficar quietos, o que leva um outro sujeito, sentado à minha frente, a perguntar se com eles vem o carro trazendo o dinheiro. Fazem propaganda do insucesso travestido de trabalho, e nem querem pagar o cachê dos atores e maquiadores. </div> </li> </ol> <ol start="start"> <li> <div align="justify">Paulo Freire chama a atenção para o caráter imanentemente dialético do processo do processo educacional: “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. Isso tá lá, em <em>Pedagogia da Autonomia</em>, livro que qualquer educador minimamente formado deve ao menos ter ouvido falar. O curioso é que as autoridades, se sabem disso, parecem querer restringir essa dialética somente ao plano teórico do processo educacional, ignorado qualquer dialética no <i>sistema</i> educacional. Pesquisadores não escutam os professores. Políticos não escutam os professores. Professores não escutam os professores. Existe uma espécie de “ditadura da voz” no sistema educacional – o que revela talvez uma outra falta de leitura, Bakhtin –, onde o poder do status mantém o direito à fala, incluindo aí a fala dos professores, já que, como foi exemplificado acima, eles só podem representar o texto alheio. </div> </li> </ol> <ol start="start"> <li> <div align="justify">Não quero concluir nada com isso. Soluções para a educação no Brasil há várias, nenhuma que aparentemente funcione. Especificamente para esse projeto eu vejo uma: acabar com ele. Mas, jacaré colocou essa sugestão na folhinha avaliativa da capacitação? Pois é, nem eu. Bem, ainda tenho esperança que eles paguem meus salários, mais dia, menos dia. É, talvez eu tenha chegado a uma conclusão: meus pais tinham razão, sou professor. Afinal, continuar num trabalho indigno por falta de opção de coisa melhor não é o que une a classe toda? </div> </li> </ol>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00485085066318740802noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-3420475917376518413.post-28637868538056092742009-11-03T18:58:00.001-08:002009-11-03T19:02:12.426-08:00Selos!<p>Olha só, pela primeira vez eu recebi um selo; na verdade foram 5 de uma vez!! Quem me deu esse presente inesperado foi meu xará mineiro, que escreve no <a href="http://lucasconrado.blogspot.com/">Meus Pensamentos</a>. Eis aí os ditos:</p> <p><em>1 -</em> <em>Esse Blog Tem Tudo que eu Preciso</em></p> <p><a href="http://lh6.ggpht.com/_Mr2LJmFAxeg/SvDtsnCbC8I/AAAAAAAAAHk/idjWRnMAReA/s1600-h/selo%20Esse%20Blog%20Tem%20Tudo%20Que%20preciso%5B2%5D.jpg"><img title="selo Esse Blog Tem Tudo Que preciso" style="border: 0px none ; display: inline;" alt="selo Esse Blog Tem Tudo Que preciso" src="http://lh6.ggpht.com/_Mr2LJmFAxeg/SvDtuJpVKOI/AAAAAAAAAHo/7Nq-knM-Uvk/selo%20Esse%20Blog%20Tem%20Tudo%20Que%20preciso_thumb.jpg?imgmax=800" border="0" width="164" height="204" /></a> </p> <p><em>2 - Blogueiro Honesto</em></p> <p><a href="http://lh3.ggpht.com/_Mr2LJmFAxeg/SvDtuw4zD3I/AAAAAAAAAHs/VJoxaLQQgpo/s1600-h/selo%20blogueiro%20honesto%5B2%5D.jpg"><img title="selo blogueiro honesto" style="border: 0px none ; display: inline;" alt="selo blogueiro honesto" src="http://lh3.ggpht.com/_Mr2LJmFAxeg/SvDtv51Xk8I/AAAAAAAAAHw/gc5W_B9Mgt0/selo%20blogueiro%20honesto_thumb.jpg?imgmax=800" border="0" width="151" height="204" /></a> </p> <p><em>3 - Esse Blog é um Sonho</em></p> <p><a href="http://lh6.ggpht.com/_Mr2LJmFAxeg/SvDtwlyvSbI/AAAAAAAAAH0/sCY-uvAcGhY/s1600-h/selo%20ESTE_B%7E1%5B2%5D.jpg"><img title="selo ESTE_B~1" style="border: 0px none ; display: inline;" alt="selo ESTE_B~1" src="http://lh5.ggpht.com/_Mr2LJmFAxeg/SvDtyZPLcVI/AAAAAAAAAH4/xnJVjVEgiek/selo%20ESTE_B%7E1_thumb.jpg?imgmax=800" border="0" width="204" height="151" /></a> </p> <p><em>4 - Esse Blog me Faz Sorrir</em></p> <p><a href="http://lh3.ggpht.com/_Mr2LJmFAxeg/SvDtzFtK_AI/AAAAAAAAAH8/ucOjSI_hJZw/s1600-h/selosorrir%5B2%5D.jpg"><img title="selosorrir" style="border: 0px none ; display: inline;" alt="selosorrir" src="http://lh6.ggpht.com/_Mr2LJmFAxeg/SvDt0Fs5npI/AAAAAAAAAIA/tL_oDG2uP8A/selosorrir_thumb.jpg?imgmax=800" border="0" width="204" height="137" /></a> </p> <p><em>5 - Eu Fui Indicado Para o Selo Meme</em></p> <p><a href="http://lh5.ggpht.com/_Mr2LJmFAxeg/SvDt1q0-OWI/AAAAAAAAAIE/fSbQC6wvmPs/s1600-h/selo%2Bmeme%5B2%5D.png"><img title="selo meme" style="border: 0px none ; display: inline;" alt="selo meme" src="http://lh3.ggpht.com/_Mr2LJmFAxeg/SvDt3Nt6V3I/AAAAAAAAAII/X0UgoxsSInM/selo%2Bmeme_thumb.png?imgmax=800" border="0" width="204" height="135" /></a> </p> <p>Diz a tradição – e eu sou um tradicionalista – que eu devo enumerar 8 características minhas e indicar 8 blogs para os selos. Mas eu já expliquei <a href="http://luscakanno.blogspot.com/2009/03/comecando.html">antes</a> que este blog não é para falar sobre mim, então vou listar 8 características da minha “obra”:</p> <p><strong>1 –</strong> <strong>Imatura </strong>– não no sentido de tratar das coisas de maneira infantil, mas no sentido de estar ainda no início, dando seus primeiros passos; estou longe de me consagrar em qualquer coisa que seja, então vou aproveitando para aprender o máximo que posso;</p> <p><strong>2 -</strong> <strong>Besta</strong> – em vários aspectos eu parto para o besteirol puro, reflexo da minha personalidade, diriam os psicologistas;</p> <p><strong>3 – Kitsch</strong> – difícil de alguém que está no meio do caminho entre a cultura de massa e a erudita não cair nessa armadilha; pelo menos eu tenho consciência de que estou enrolando às vezes;</p> <p><strong>4 – Irreverente</strong> – lembro bem que eu queria lançar um disco de sambas cômicos cujo nome era bastante emblemático: "Não consigo ser sério”;</p> <p><strong>5 – Séria</strong> – nem tudo na vida é brincadeira, né? Procuro problematizar as questões que me incomodam na vida, e isso se transfigura no que eu produzo, embora nem sempre eu obtenha um resultado satisfatório;</p> <p><strong>6 – Fantástica</strong> (não no sentido de formidável) – a realidade é moldável, aprendi isso no pouco que eu conheço de Mago: a ascenção. Por isso eu que muitas vezes minhas ideias partem para o absurdo, porque eu quero mostrar, à la Kafka (comparação bem exdrúxula), como a realidade é absurda às vezes; ou que nós vemos menos do que o que realmente existe para se ver;</p> <p><strong>7 – Genérica</strong> – não quero datar o que eu escrevo, por isso tento muitas vezes deixar tudo muito genérico, para que possa representar muito mais do que um momento histórico pré-determinado; dessa forma;</p> <p><strong>8 – Divertida</strong> – eu pelo menos me divirto muito escrevendo, desenhando, copiando e colando, não sei se vocês se divertem lendo. =)</p> <p>Depois desse exercício de auto-exegese, vamos às indicações:</p> <p>1 – <a href="http://estacaogarimpo.blogspot.com/">Estação Garimpo</a> – do meu bróder Dj. Literatura, música, e outras coisas.</p> <p>2 – <a href="http://espalitandodente.blogspot.com/">Espalitando Dente</a> – Paulo Bono publica seus excertos do cotidiano, poetizados de maneira pouco ortodoxa.</p> <p>3 – <a href="http://21rostos.blogspot.com/">Monstro de 21 Rostos</a> – roteiros de histórias em quadrinhos que nunca verão a luz do sol, por Jean Felipe.</p> <p>4 – <a href="http://blogdas30pessoas.blogspot.com/">Blog das 30 pessoas</a> – várias pessoas, vários textos, várias surpresas. </p> <p>5 – <a href="http://numajanela.blogspot.com/">olhos furta cor, coração a mil</a> – Dandara brinca de poetar em prosa.</p> <p>6 – <a href="http://capinaremos.com/">Capinaremos</a> – Tá, é apelação, mas esse blog é MUITO bom.</p> <p>7 – <a href="http://www.igrejainternacional.com/">Igreja Internacional</a> – Só o Pr. Silas salva! (obs: já foi bem melhor e hoje tá meio capenga, mas vale a pena ler os textos de vez em quando).</p> <p>8 -<a href="http://picarianismo.blogspot.com/"> </a><a href="http://picarianismo.blogspot.com/">A MACAXEIRA SEMIÓTICA</a> – Nosso querido Um picariano sempre (nem sempre) nos agraciando com o que há de melhor da literatura latino-americana e mundial.</p> <p>Bem, é isso. Agradeço ao Lucas que me agraciou com os selos e recomendo a leitura dos blogs indicados. Abraço a todos!</p>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00485085066318740802noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-3420475917376518413.post-10613431731555536252009-10-22T10:21:00.001-07:002009-10-27T08:31:46.630-07:00Rage!!<p align="justify">Descobri essa série de tirinhas no <a href="http://capinaremos.com/tag/rage/">Capinaremos</a> (pra quem não conhece esse blog, recomendo que procure o mais rápido possível!), e resolvi brincar de fazer alguns também. Sendo o Rage uma série muitas devez de humor negro, espero que ninguém se ofenda. Por enquanto só fiz esses, mas depois eu posto mais!</p> <p><a href="http://lh3.ggpht.com/_Mr2LJmFAxeg/SuCUZIUCalI/AAAAAAAAAHM/nU2A4LKNwUA/s1600-h/rage1%5B3%5D.jpg"><img title="rage1" style="border: 0px none ; display: inline;" alt="rage1" src="http://lh3.ggpht.com/_Mr2LJmFAxeg/SuCUaqwIz-I/AAAAAAAAAHQ/ngw_7kdxXEw/rage1_thumb%5B1%5D.jpg?imgmax=800" border="0" width="252" height="226" /></a> </p> <p><em><span style="font-size:78%;">Essa foi sacanagem</span></em></p> <p><a href="http://lh5.ggpht.com/_Mr2LJmFAxeg/SuCUcKCYWEI/AAAAAAAAAHU/UJE1wjX-psQ/s1600-h/rage2.1%5B2%5D.jpg"><img title="rage2.1" style="border: 0px none ; display: inline;" alt="rage2.1" src="http://lh3.ggpht.com/_Mr2LJmFAxeg/SuCUdbo1szI/AAAAAAAAAHY/pM5YYtmH8n0/rage2.1_thumb.jpg?imgmax=800" border="0" width="244" height="209" /></a> </p> <p><em><span style="font-size:78%;">Que blogueiro nunca passou por isso? Eu não!!</span></em></p> <p><a href="http://lh4.ggpht.com/_Mr2LJmFAxeg/SuCUe8hES-I/AAAAAAAAAHc/7xGalVhnED8/s1600-h/rage3%5B2%5D.jpg"><img title="rage3" style="border: 0px none ; display: inline;" alt="rage3" src="http://lh5.ggpht.com/_Mr2LJmFAxeg/SuCUgReHQrI/AAAAAAAAAHg/ZG-EjlJ6RW4/rage3_thumb.jpg?imgmax=800" border="0" width="244" height="229" /></a> </p> <p><em><span style="font-size:78%;">Ficou sem resposta, Nietzsche?</span></em></p>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00485085066318740802noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-3420475917376518413.post-89317561094263614232009-10-12T15:46:00.001-07:002009-10-27T08:31:31.364-07:00Pânico<p align="justify">Esses dias tenho pensado constantemente que vou morrer. Não que esteja cogitando o suicídio, muito pelo contrário: cada vez mais me velo lutando desesperadamente para encher meus pulmões com ar e fazer meu coração continuar batendo. Mas sinto sempre a morte por perto, me rondando, me espreitando, às vezes chegando perto e cortando um pedaço da minha vida com sua lâmina gelada. Esse é o medo: de que ela esteja realmente por perto. E é justamente esse medo que está me matando.</p> <p align="justify">Certas vezes a sinto tão próxima que pareço ver sua sombra projetando-se na minha frente. Viro-me então assustado e nada vejo além de nada. Em outras ocasiões quase posso sentir sua mão tocando meu ombro de leve, ou acariciando meu cabelos, como se tentasse me dizer para não temê-la, pois suas intenções são as mais nobres possíveis. Novamente a procuro com os olhos e não a encontro. Talvez seja esse meu erro, tentar vê-la com os olhos, que não podem achar o invisível. Deve ser isso, pois não acho que esteja tendo alucinações. Pelo menos não por causa de algum erro de receita médica, já que não tomo nenhum remédio. Desde sempre me recusei a tomá-los. Não gosto dessa idéia de calma ou felicidade, que já se compra pronta, sintetizada e embalada, e cujo acesso só se consegue se um senhor vestido de branco te escrever um conselho num pedaço de papel ou se você tiver um amigo em condições financeiras não tão boas que o obriguem a trabalhar por detrás de um balcão. Calma, felicidade? Isso me soa mais como business. </p> <p align="justify">Não, não acredito nos remédios. O que posso fazer, sou fruto dessa coisa que alguns chamam de pós-modernidade, com sua desconfiança das confianças e das desconfianças. Hoje em dia acabam-se cada vez mais as certezas, e o que sobra é somente o sonho do que antes se sabia real. Nada mais de muros para além dos quais não se pode ir, mas também nos quais podemos nos apoiar. É preciso se fechar às vezes – quase sempre – mesmo que não percebamos, pois só assim é que podemos ter uma idéia de onde agüentamos pisar. Mas hoje em dia; como saber aonde ir? Talvez essa seja a causa do medo: a impossibilidade de se saber seguro num mundo onde as verdades já se foram há tempos.</p> <p align="justify">Num mundo onde só resta o medo e a morte. E o meu medo é de temer os dois. Cada vez que os sinto por perto meu coração dispara, as pernas tremes descontroladas, o ar parece que some ao meu redor. Perco de repente todas as forças, e só consigo pensar em parar de pensar. Minha doença está toda em mim, começa em mim e só terminará em mim. Disso eu sei, não preciso de nenhuma ciência, nenhuma hora marcada que me diga. Só não sei onde é que ela termina, embora eu tenha uma idéia de onde ela começa. Mas isso realmente ajuda? Saber que nada sei?</p> <p align="justify">Só o que sei é que um fim se aproxima, seja ele qual for, pois não durarei mais muito tempo assim. Ou eu encontro uma saída, ou o medo acabará por me envolver tanto que serei sufocado. No fim, finalmente encontro um muro, talvez o último deles: o medo é o que me conduz, nos conduz nesses novos séculos, o medo de ficar doente, o medo de ser roubado, o medo de ficar sozinho, o medo de uma nova Guerra, o medo de não sermos humanos ou divinos, o medo de estarmos errados quanto a tudo o que criamos nesses milhares de anos de civilizações. Esse é nosso apoio derradeiro, aquele que norteia meus passos, que me guia por um caminho que só me levará a ela, aquela que eu temo tanto, que me acaricia às vezes como que dizendo para não me preocupar com o que há de vir, que será tudo igual no fim de tudo.</p> <p align="justify">Esse é meu verdadeiro pânico: que tudo seja igual no fim de tudo.</p>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00485085066318740802noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-3420475917376518413.post-10942542101020335992009-10-03T13:12:00.001-07:002009-10-27T08:31:13.503-07:00Grandes análises de arte contemporânea I<h3 align="justify">Nesta nova seção do CS faremos análises de obras de arte contemporânea, geralmente marginalizadas pela academia. Como primeiro estudo, trataremos do poema “Mineirinho” de Alexandre Pires, reproduzido em forma de canção pelo grupo SPC. Vamos à obra:</h3> <h3><span style="color:#000000;"><strong>Mineirinho</strong></span></h3> <p><i>Eu não tenho culpa de comer quietinho <br />No meu cantinho boto pra quebrar <br />Levo a minha vida bem do meu jeitinho <br />Sou de fazer não sou de falar. <br />Quer saber o que tenho pra lhe dar <br />Vai fazer você delirar <br />Tem sabor de queijo com docinho <br />Meu benzinho, você vai gostar. <br /></i></p> <p><i>É tão maneiro, uai <br />É bom demais <br />Não tem como duvidar <br />O meu tempero, uai <br />Mineiro faz <br />Quem provar se amarrar. <br /></i></p> <p><i>Ai, Ai <br />Não tem como duvidar <br />Faz, Faz <br />Quem provar se amarrar <br />Ai, Ai <br />Não tem como duvidar <br />Faz, Faz <br />Quem provar se amarrar.</i></p> <p align="justify">Começaremos nossa análise pelo primeiro elemento do poema, o título. <i>Mineirinho</i> aponta para uma característica identitária específica: não é só a pessoa que nasce no estado de Minas Gerais, mas o apelido que uma pessoa que abarca os caracteres tradicionais da identidade mineira recebe nos outros estados do Brasil. Daí podemos tirar um primeiro aspecto do poema, que será ou não confirmado no decorrer da análise: ele fala sobre uma representação típica do mineiro.</p> <p align="justify">A primeira estrofe parece que vem confirmar nossa hipótese inicial, pois fala de um dos estereótipos do mineiro, o do “sedutor quieto”, uma espécie de Dom Juan que acredita que a defesa é o melhor ataque. Esta figura do <i>Dom Juan ponderado</i> é exposta sobretudo no primeiro e no último verso da estrofe: “comer quietinho” e “sou de fazer não sou de falar”. Note que o poeta se utiliza de expressões da linguagem popular para fazer a caracterização do Dom Juan, o que rompe com a tradição da representação deste sedutor, que se servia da linguagem culta da <i>alta literatura</i> para ser representado. Esta quebra de paradigma e da expectativa além de ser uma característica da poesia moderna, acaba gerando um certo humor, que representa uma certa tradição na poesia a partir do pós-parnaso.</p> <p align="justify">Na segunda estrofe Pires continua discursando sobre suas habilidades de sedutor, tentando convencer o leitor implícito de que o eu-lírico é realmente destro no que se refere aos prazeres sexuais. Aqui ele se serve de outra especificidade da cultura mineira como metáfora para seus dotes: a culinária. O verso “Tem sabor de queijo com docinho”, que faz referência aos prazeres que o poeta é capaz de dispor ao cônjuge, se utiliza de dois pratos conhecidíssimos da culinária popular mineira, o doce e o queijo, famosos por sua qualidade. Portanto, Pires continua a se valer de elementos da cultura popular para fazer sua caracterização. </p> <p align="justify">A terceira estrofe segue as mesmas idéias da primeira e da segunda: a utilização da linguagem popular mineira (uai) e de metáforas referentes à culinária também popular mineira (o tempero), para demarcar suas qualidades de sedutor. O poema, portanto, se constrói numa estrutura dialética que exprime uma característica do mineiro, aqui no caso, de cunho sexual, onde a terceira estrofe é síntese estilística das duas primeiras. A quarta estrofe é apenas uma reafirmação do que fora dito durante o resto do poema, principalmente na terceira estrofe, funcionando como uma espécie de apêndice desta. </p> <p align="justify">Vimos, portanto, que o poema fala sobre os dotes sexuais do mineiro, servindo-se para isso de elementos da cultura popular. A escolha destes elementos se deve ao fato de eles serem mais conhecidos no resto do país, até mesmo estereotipados como características primordiais do estado mineiro, e que levam ao pensamento de que Minas é um estado rural, cujos habitantes são sempre “caipiras” e, portanto, diminuídos perante o resto da população brasileira. Pires, no entanto, brinca com estes elementos ao utilizá-los para cantar a habilidade sexual exuberante do povo mineiro, já que num país tipicamente patriarcal como o nosso, tal habilidade é vista como motivo de orgulho e de diferencial positivo dentro da estrutura social. Assim, através de elementos vistos muitas vezes como motivo de chacota, o poeta eleva a posição do povo mineiro sobre os demais povos brasileiros.</p> <p align="justify">Assim, apesar de parecer estar fazendo poesia lírica, que fala sobre um “eu”, o poeta na verdade faz poesia épica, pois está na verdade falando sobre um “nós”, o povo mineiro. Vimos como Pires já quebrara o paradigma do Dom Juan, mas também quebra com o paradigma da poesia épica em si, que explicitamente fala sobre nós, só admitindo pequenos trechos de lírica. Aqui, ao contrário, a estrutura toda é lírica, mas o sentido é épico. </p> <p align="justify">Concluindo nossa análise, percebemos em <i>Mineirinho</i> um poema complexo, que possui uma estrutura aparente que só pode ser desmanchada através de uma análise rigorosa, para assim revelar seu verdadeiro sentido. Isso revela a consciência não só social de Pires, ao ministrar com destreza os sentidos das relações da cultura brasileira, como também a consciência literária, ao se mostrar consciente da nova exploração da forma que a poesia contemporânea tem feito.</p>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00485085066318740802noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-3420475917376518413.post-5142633416557743882009-09-27T19:27:00.000-07:002009-10-27T08:30:50.767-07:00MICROCONTOS<!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" latentstylecount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:#0400; mso-fareast-language:#0400; mso-bidi-language:#0400;} </style> <![endif]--> <p class="MsoNormal">Tava olhando o blog do meu amigo Dj, e vi que ele se enveredou no mundo pitoresco dos microcontos. Como bom invejoso que sou, resolvi imitar na cara dura. Fiz esses daí agorinha, como experiência. Tentei fazer com no máximo 140 caracteres, à la Twitter. O resultado não ficou muito bom, mas é até engraçadinho. Confiram aí:</p><p class="MsoNormal"><br /></p><p style="font-weight: bold;" class="MsoNormal">Esquizofrenia I</p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal">- Doutor, eu tenho cura?</p> <p class="MsoNormal">- Espero que não, senão eu é que me fodo!</p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p style="font-weight: bold;" class="MsoNormal"><br /></p><p style="font-weight: bold;" class="MsoNormal">Dialética </p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal">- Eu quero.</p> <p class="MsoNormal">- Eu não.</p> <p class="MsoNormal">- Então vai na mão.</p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p style="font-weight: bold;" class="MsoNormal"><br /></p><p style="font-weight: bold;" class="MsoNormal">Doutrina</p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal">O genial não foi ele ter pensado pelos outros, mas ter feito parecer que eles pensavam por si próprios.</p><p style="font-weight: bold;" class="MsoNormal"><br /></p><p style="font-weight: bold;" class="MsoNormal">Esquizofrenia II</p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal">- Você é muito feio!</p> <p class="MsoNormal">- E você muito autocrítico.</p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p style="font-weight: bold;" class="MsoNormal"><br /></p><p style="font-weight: bold;" class="MsoNormal">Concepção</p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal">- Fiz um poema.</p> <p class="MsoNormal">- E cadê ele?</p> <p class="MsoNormal">- No berço, dormindo.</p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p style="font-weight: bold;" class="MsoNormal"><br /></p><p style="font-weight: bold;" class="MsoNormal">O Vampiro da Capital.</p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal">Convidaram ele para entrar em casa e depois ficaram putos que lhes chupou o sangue.</p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p style="font-weight: bold;" class="MsoNormal"><br /></p><p style="font-weight: bold;" class="MsoNormal">O Vampiro do Capital.</p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal">Convidaram ele para entrar em casa e todo dia arrumam quem não tem casa para ele chupar o sangue.</p><p class="MsoNormal"><br /></p><p class="MsoNormal">Quem quiser conferir os microcontos de Dj, não tenham medo e cliquem <a href="http://estacaogarimpo.blogspot.com/2009/09/vida-pelo-microconto.html">aqui!</a> E quem sabe depois eu não escrevo mais?<br /></p>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00485085066318740802noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-3420475917376518413.post-41030140919979184622009-09-21T14:31:00.000-07:002009-10-27T08:30:26.806-07:00O homem sem rostoEle era uma daquelas pessoas que costumam chamar de “cidadão modelo”, “pai de família”, “empregado do mês”, etc. De casa para o trabalho, do trabalho para casa. Férias com a família por todo o país, exterior quando juntavam dinheiro. Família grande, reunida. Pouca bebida, charutos cubanos, só. Comunhão no fim de semana, roupas bonitas. Amigos em casa, churrasco. Jornal do horário nobre, não queria parecer ignorante no trabalho. Bom trabalho, aliás. Chefes satisfeitos, subordinados admirados. Nem muito conservador a ponto de ser chamado de reacionário. Nem muito liberal a ponto de ser chamado de revolucionário. Era assim mesmo: andava bem em cima da linha, nem um passo lá, nem um passo cá.<br /><div style="text-align: justify;"><br />Mas aconteceu de um dia, enquanto ele dormia e sonhava os mesmos sonhos de sempre, entrarem na sua casa e levarem embora o seu rosto. Quando ele acordou na manhã seguinte, olhou-se no espelho do banheiro e viu que não via nada no lugar da sua face, só um vazio de manequim. Imediatamente ficou revoltado com aquilo, imaginando que bandidos haviam entrado na sua casa sorrateiramente e roubaram, sem a menor honra, seu rosto. Gritando de raiva, pensou em ligar para a polícia, mas quando pegou o aparelho de telefone percebeu um papel com um carimbo do governo federal. Era uma ordem de apreensão. Dizia que seu rosto havia sido recolhido por causa de várias irregularidades que constavam no sistema, todas elas listadas num linguajar incompreensível que falava de leis, códigos, números e atos, entre outras coisas do jargão jurídico. Junto com a ordem estava uma intimação para ver um juiz e dar seu depoimento naquela mesma manhã. Acalmou-se, vestiu seu melhor terno, e, despedindo-se da sua família que o olhava sem grande espanto, resolveu que iria solucionar seu problema naquele mesmo dia com o juiz.<br /><br />Confiante, nem se lembrou de chamar seu advogado. Chegou sozinho ao fórum e mostrou a intimação à recepcionista, que, como se retirasse sofrivelmente das suas estranhas a força para parecer prestativa, indicou metodicamente a sala na qual ele esperaria até ser chamado para falar com o meretíssimo. Lá ficou por horas até ser chamado, suando na pequena e sufocante sala. Quando entrou na sala do juiz, estava todo desgrenhado, havia tirado o paletó e tinha manchas de suor enormes debaixo do braço. O juiz, ao vê-lo naquele estado, o suor descendo livremente por onde antes era seu rosto, olhou-o com repugnância e foi logo fazendo uma série de perguntas, tais como, onde o senhor estava na noite de 15 de outubro, quanto ganha por ano, para que time de futebol o senhor torce, com quantas mulheres ou homens o senhor já teve relações sexuais durante sua vida, em quem o senhor votou nas últimas eleições, e mais uma centena de indagações que pareciam não ter nenhuma ligação com o desaparecimento do seu rosto. Desaparecimento não, corrigiu o juiz ao ser indagado, recolhimento, e estas questões estão totalmente ligadas ao seu caso, portanto não se atreva a respondê-las falsamente, e massacrou o homem com mais uma série de perguntas que durou uma pequena eternidade. Quando o inquérito finalmente cessou, e ele, exausto, pensou que teria seu rosto de volta, o juiz mandou que ele aguardasse o contato do fórum que indicaria o andamento do seu caso. E com um aceno de mão apressado, expulsou-o de sua sala.<br /><br />No outro dia o homem procurou seu advogado, perguntando o que poderia ser feito. Este, após ouvir seu cliente e requisitar no fórum todos os arquivos disponíveis do processo, explicou ao homem, em advoguês, que nada poderia ser feito além de fazer um requerimento e esperar o andamento do caso. O homem não se contentou com a resposta e procurou um advogado mais conceituado e mais caro, que apenas lhe disse as mesmas coisas de uma forma ainda mais complicada. Sem saber mais o que fazer, o homem decidiu retornar à sua rotina e esperar que o mundo burocrático desse suas voltas.<br /><br />Mas levar a rotina sem o seu rosto acabou se revelando terrivelmente angustiante para o homem, que se sentia como se estivesse nu. A solução para este problema ele encontrou quando passava, acidentalmente, em frente a uma loja de artigos cenográficos e teatrais, e viu, expostas na vitrine, muitas máscaras de variados tipos. Imediatamente entrou e comprou uma máscara de um homem respeitável, cabelos penteados, barba feita, olhar de seriedade, que lembrava bastante a expressão rotineira do seu próprio rosto. Quando colocou a máscara, esta se grudou ao que antes era o seu rosto, tornando-se uma face perfeita e impossível de ser identificada como uma face artificial. Olhou-se no espelho e percebeu, satisfeito, que embora a máscara representasse o rosto de um outro homem, era perfeitamente possível reconhecer sua própria identidade; assim, ninguém o confundiria com outra pessoa nem deixaria de identificá-lo caso o conhecesse.<br /><br />Viveu desse jeito por muito tempo. Mas com o passar dos dias, começou a se sentir vazio, e percebeu que algo lhe faltava em alguma região do corpo ou da alma. Descobriu que era seu rosto antigo, pois mesmo satisfeito com o novo, ainda sentia dentro de si que aquele que via no espelho não era realmente ele. Enjoado da nova face, decidiu passar novamente na loja de máscaras e comprar uma nova, desta vez de um homem mais jovial e alegre, que lhe deu uma nova alegria no coração assim que substituiu a face antiga. Sentia-se muito bem, queria viajar, conhecer coisas novas, cantar na rua sem vergonha de parecer ridículo, escrever um livro de poemas. Queria viver.<br /><br />Mas novamente, conforme foi passando o tempo, foi enjoando no novo rosto, e teve de trocá-lo mais uma vez. E isso foi se repetindo por vários anos, até que se tornou velho e já não sabia mais quem era.<br /><br />Muito tempo e muitas máscaras depois (agora ele estava usando a máscara de um dog alemão, amargo e velho), ele teve de passar num cartório para dar entrada nuns papéis do seu seguro de vida, quando o funcionário que o atendia encontrou num envelope amarelado que estava nos fundos dos arquivos, o seu velho rosto. O funcionário do cartório mostrou o envelope para o homem, que ao abri-lo, encontrou um documento, datado de muitos anos anteriormente, dizendo que o rosto estava livre de acusações e suspeitas e por isso deveria ser entregue ao dono, com as devidas condolências. O homem, emocionado, perguntou porque nunca havia recebido o seu rosto de volta e o funcionário respondeu que provavelmente havia ocorrido um erro humano e burocrático, levando o rosto a ficar esquecido nos arquivos do cartório.<br /><br />O homem não ficou irritado nem revoltado; apenas retirou, num gesto cansado, seu antigo rosto do envelope e deitou sobre ele um olhar misto de saudade e esquecimento. O rosto, provavelmente por causa dos anos que passara perdido dentro de um envelope em um arquivo velho, sujo e mofado, estava todo amassado, com algumas manchas aqui e outros rasgões ali. O homem, entretanto, tirou a máscara de cachorro e vestiu seu antigo rosto, mesmo estando ele deformado pelo abandono. Em seguida voltou pra casa e nunca mais falou sobre esse assunto até o dia da sua morte.<br /><br /><br /><br /></div>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00485085066318740802noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-3420475917376518413.post-28182388826152648092009-09-09T20:44:00.002-07:002009-10-27T08:30:12.755-07:00Estátua de sal<!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" latentstylecount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:#0400; mso-fareast-language:#0400; mso-bidi-language:#0400;} </style> <![endif]--> <p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">Ele era um mendigo sujo, desses que encontramos aos montes por aí. Carregava sempre um saco nas costas que usava como mochila para levar suas poucas tralhas, não se sabia ao certo o quê. A calça coronha deixava à mostra suas pernas finas e cheias de feridas que sangravam a todo momento, e, como não tinha muita força para caminhar, usava um cabo de vassoura como bengala. Isso lhe dava um certo diferencial entre os outros mendigos, um ar de originalidade. Isso para aqueles que sempre querem ver uma espécie de lado positivo nas coisas, pois todos sabiam que era pura e simples necessidade mesmo; era possível perceber, se você prestasse atenção, a expressão de vergonha em seus olhos, andando com aquelas feridas abertas e se apoiando no ridículo cabo de vassoura verde. </p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal"><span style=""> </span>E não era só vergonha que se via nos olhos do mendigo, mas sobretudo um ódio amargo por todos os outros seres humanos que passavam por perto dele. Conforme gastara o tempo naquela vida de mendigância, fora desenvolvendo uma misantropia de quem se cansa de ser o tempo todo cuspido e escarrado. Por isso só aceitava, e ainda assim lançando um olhar maligno para quem dava, o mínimo de esmola necessário para manter suas necessidades básicas, a bebida aí inclusa. Beber, aliás, era a única coisa que detestava menos em todo o resto da sua existência, justamente porque o fazia ver com melhores olhos aquela porcaria toda que o cercava e que parecia começar em si mesmo para só então abarcar o resto do mundo. Mas depois que acordava no dia seguinte, e da bebida só lhe restava a podridão na boca e as brasas no estômago, maldizia seu vício patético, embora sem muita raiva, pois sabia que logo começaria a busca para alimentá-lo.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal"><span style=""> </span>Assim deixava os dias se passarem, embriagado de álcool é ódio. Até que um dia cansou-se dessa merda toda e resolveu se sentar e esperar pela morte. </p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal"><span style=""> </span>Procurou um banco de uma praça movimentada, para que não se esquecesse do motivo de sua decisão e resolvesse mudar de idéia. Comprou uma garrafa de cachaça barata, acomodou-se no banco e, inclinando o corpo para frente, apoiou o queixo em cima da bengala, sua posição de espera característica. De vez em quando dava um gole da cachaça, mas não muito, porque não queria beber demais e acabar dormindo e assim correr o risco de deixar a morte passar. </p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt; text-align: justify;">Não se sabe muito bem quanto tempo ficou assim, nem quanto da bebida chegou a tomar, e nem muito menos que espécie de Gomorra em chamas ele viu, mas aconteceu de um dia alguém perceber que ele se tornara uma estátua de sal. Mas não esse sal comum, que a gente tem na cozinha e tempera a comida; era um sal duro, escuro e amargo, que deixava um cheiro de pântano nos arredores do banco onde a estátua repousava.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt; text-align: justify;">Não é todo mundo que acredita que aquilo é uma estátua de sal, e tem uns céticos mais corajosos que insistem em provar a estátua, passando a língua em alguma parte dela. Todos eles, depois de tal ato de coragem, confessaram que passaram dias com a língua cortada e o com um gosto amargo castigando a boca.</p>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00485085066318740802noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-3420475917376518413.post-91097357018175237452009-09-03T20:43:00.000-07:002009-10-27T08:29:47.133-07:00TOP 5 – MEUS CINCO DISCOS DE ROCK FAVORITOS<!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" latentstylecount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:#0400; mso-fareast-language:#0400; mso-bidi-language:#0400;} </style> <![endif]--> <p class="MsoNormal">TOP 5 – MEUS CINCO DISCOS DE ROCK FAVORITOS</p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal">Há algum tempo eu queria falar de música aqui no blog, mas não sabia exatamente sobre qual assunto. Me ocorreu então fazer uma coisa bem clichê e listar os melhores discos de rock que eu já havia escutado. Mas, quando comecei a pensar no assunto, percebi que seria muito difícil fazer tal lista, pois haviam muitos critérios que eu poderia usar pra fazê-la. Escolhi então o mais subjetivo de todos, meu gosto pessoal. Eu sei que este blog não era pra ser um blog pessoal, mas vou fazer essa exceção, então me perdoem. A idéia é mostrar um pouco de música diferente, porque meu gosto musical não é tão convencional assim, pelo menos se tratando de rock. Vou tentar colocar os links dos discos pra download, pois se alguém se interessar pode baixar e ver se concorda comigo ou não. Pelo menos escuta alguma coisa nova.</p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal">Uma coisa interessante deste post, é que ele está sendo feito em conjunto com meu amigo Dj, que vai fazer a mesma lista no <a href="http://estacaogarimpo.blogspot.com/">blog dele</a>. Então não deixem de dar uma passada lá e ver <a href="http://estacaogarimpo.blogspot.com/2009/09/top-5-meus-cinco-discos-de-rock.html">o que ele preparou pra gente</a>. E fica a idéia aí pra quem tem blog também, de fazer a mesma coisa. Dessa forma nós compartilhamos novos sons pra novas pessoas, e a música se movimenta.</p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal">Após o preâmbulo de praxe, vamos à lista:</p><p class="MsoNormal"><br /></p><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" latentstylecount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:#0400; mso-fareast-language:#0400; mso-bidi-language:#0400;} </style> <![endif]--> <p class="MsoNormal"><span style="" lang="EN-US">5º Lugar: <em><b style=""><span style="font-style: normal;"><a href="http://rapidshare.com/files/106532496/Wyatt_Robert_-_Rock_Bottom.rar">Rock Bottom</a> -</span></b> Robert Wyatt<o:p></o:p></em></span></p><br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXG2LG9ENwiKQDpPtPj8a0Q6ZZT1nBn7Q88gp014gi1NwpqlwzKgxBEMdAMxkcSKdTvRiDYju0KlyLs0n3rOxUQ_OsOO2dhLhu3QMqvXvobQPuwaCwU2BlqfYnAwi3nqmzdq_gFvYJu4AS/s1600-h/rockbottom.gif"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 300px; height: 300px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXG2LG9ENwiKQDpPtPj8a0Q6ZZT1nBn7Q88gp014gi1NwpqlwzKgxBEMdAMxkcSKdTvRiDYju0KlyLs0n3rOxUQ_OsOO2dhLhu3QMqvXvobQPuwaCwU2BlqfYnAwi3nqmzdq_gFvYJu4AS/s320/rockbottom.gif" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5377455970460840562" border="0" /></a>><o:smarttagtype namespaceuri="urn:schemas-microsoft-com:office:smarttags" name="PersonName"></o:smarttagtype><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" latentstylecount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><!--[if !mso]><object classid="clsid:38481807-CA0E-42D2-BF39-B33AF135CC4D" id="ieooui"></object> <style> st1\:*{behavior:url(#ieooui) } </style> <![endif]--><style> <!-- /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:#0400; mso-fareast-language:#0400; mso-bidi-language:#0400;} </style> <![endif]--> <p class="MsoNormal">Robert Wyatt, ex-baterista do <i style="">Soft Machine</i> (pra quem não conhece, recomendo também), tocava na sua banda nova, o <i style="">Matching Mole</i>, até que, em 1973, caiu do 3º andar numa festa e ficou paraplégico. Sem poder tocar bateria na sua banda, começou uma carreira solo e lançou o disco que é considerado sua obra-prima, o Rock Bottom. Apesar de ele dizer que o disco não tem nada a ver com sua condição, o próprio nome do disco parece desmentir: rock bottom é uma expressão que corresponde no português a no <i style="">fundo do poço</i>. As letras são tensas, ressentidas e ácidas, e muitas vezes beiram o nosense, como no caso de Alifib e Alifie; notem, inclusive, como Alifib (uma música que parece falar sobre a relação do autor com sua esposa, mostrando como se ele a usasse) começa com Wyatt fazendo um som como se respirasse com dificuldade. </p> <p class="MsoNormal">Conjecturas à parte, Rock Bottom é um disco que me surpreendeu pela beleza e inovação. As músicas são bem diferentes umas das outras, embora cada uma mantenha uma estrutura central que se repete ao ponto de parecer, às vezes, música ambiente. Mas sem aqueles clichês de tecladinhos fazendo os mesmos acordes. <st1:personname productid="Em Rock Bottom" st="on">Em Rock Bottom</st1:personname> o que mais aparece é experimentalismo, com melodias estranhas, timbres diferentes, as letras fantásticas, e a voz de Wyatt, esquisita, mas que se torna bonita quando se acostuma. É um daqueles discos que se escuta e se percebe que lá estão concentradas várias idéias que serão desenvolvidas mais tarde na música. Outra coisa interessante neste disco é que, apesar de eu o ter colocado na última posição, é o único da lista que eu gosto e recomendo escutar e prestar atenção em todas as músicas, pois cada uma encerra uma idéia diferente que vale a pena ser digerida. Um disco realmente bonito e triste, mas ao mesmo tempo esperançoso.<br /></p><p class="MsoNormal"><br /></p><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" latentstylecount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:#0400; mso-fareast-language:#0400; mso-bidi-language:#0400;} </style> <![endif]--> <p class="MsoNormal">4º Lugar: <a href="http://rapidshare.com/files/95538283/Radiohead__2000_-_Kid_A__-_02_-_Kid_A.mp3"><span style="font-weight: bold;">Kid A</span></a> – <span style="font-style: italic;">Radiohead</span></p><br /><br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-BxrsQh4xqZLapJlTuG9sIkXrq49HplHS9hBA9kpYgu3dggpACiBDB-8x9P65nglAOY-wfPmAvdaEGNG5elrXGv5dX4xYK3ceXlB7JBPj1nSKzqBz0o7OpyZ6G93CcEcH9HU4tyZdtN9X/s1600-h/kida.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 300px; height: 300px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-BxrsQh4xqZLapJlTuG9sIkXrq49HplHS9hBA9kpYgu3dggpACiBDB-8x9P65nglAOY-wfPmAvdaEGNG5elrXGv5dX4xYK3ceXlB7JBPj1nSKzqBz0o7OpyZ6G93CcEcH9HU4tyZdtN9X/s320/kida.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5377455973166615666" border="0" /></a><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" latentstylecount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:#0400; mso-fareast-language:#0400; mso-bidi-language:#0400;} </style> <![endif]--> <p class="MsoNormal">Não acho que seja preciso falar do Radiohead aqui, pois todo mundo conhece. Inclusive, esse é o único disco da lista que foi feito depois dos anos 70. Então vou só me concentrar em explicar o porquê dele estar aqui.</p> <p class="MsoNormal">Escolher o melhor disco do Radiohead pra mim é difícil, porque sou muito fã de quase tudo o que a banda produziu. Inclusive, fiquei em dúvida sobre qual disco eu escolheria: o Kid A ou o Ok Computer. Mas, embora eu considere o Ok Computer como um dos discos mais importantes de rock do final do século/milênio passado (por ser um daqueles tipos de arte que representam profundamente a época em que foi produzido), esta lista vai pelo gosto pessoal, e não por critérios impessoais. Por isso fiquei com Kid A.</p> <p class="MsoNormal">O que me chama atenção neste disco? Primeiro, a quebra com os paradigmas de como se deve fazer rock: aqui quase não existem guitarras (que são substituídas por um monte de barulhinhos), o som é cerebral, mecânico, sintético (uma tendência que já vinha sendo desenvolvida a partir do Ok Computer). Depois, a coragem de fazer experimentalismo quando a banda vinha se consagrando no <i style="">mainstream</i> alternativo (sic). Por último, a qualidade radioheadiana que me conquista em todos os discos, a beleza das canções, a expressão de Tom York, e a contemporaneidade da produção da banda. Em alguns aspectos, Kid A lembra Rock Bottom. Se ficaram curiosos, baixem e digam se concordam ou não.</p> <p class="MsoNormal">Destaque: The National Anthem, louca e política, e melhor do álbum, sem dúvida.</p><p class="MsoNormal"><br /></p><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" latentstylecount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:#0400; mso-fareast-language:#0400; mso-bidi-language:#0400;} </style> <![endif]--> <p class="MsoNormal"><span style="" lang="EN-US">3º Lugar: <a href="http://rapidshare.com/files/84711011/Van_Der_Graaf_Generator_-_Pawn_Hearts.rar"><b style="">Pawn Hearts</b></a> – <i style="">Van Der Graaf Generator<o:p></o:p></i></span></p> <p class="MsoNormal"><br /></p><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOg-sB_d-AkZb-lU_8n5mkSysruwvCS6cUpZXw4VAALJGJbnNYROxon8dGV_aoGHwssTtyDYJzyBEHOrJgUp80476p72MZ_h0onaTnmbMV-TO6CjnHzZZxDu9GmQFMMwzQ8bPgkD6wTRRR/s320/Pawn_Hearts-front.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5377455980101488306" border="0" /><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" latentstylecount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><!--[if !mso]><object classid="clsid:38481807-CA0E-42D2-BF39-B33AF135CC4D" id="ieooui"></object> <style> st1\:*{behavior:url(#ieooui) } </style> <![endif]--><style> <!-- /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:#0400; mso-fareast-language:#0400; mso-bidi-language:#0400;} </style> <![endif]--> <p class="MsoNormal">Este terceiro lugar foi difícil de eleger, porque não sabia se ele seria o terceiro ou o segundo; portanto, encarem ele e o segundo lugar como posições móveis, que podem se substituir um ao outro.</p> <p class="MsoNormal">Van Der Graaf Generator é uma banda inglesa pouco convencional. Sua formação clássica é dois teclados, bateria e saxofone, ou seja, sem baixo nem guitarra. Outra coisa que diferencia o VDGG é o vocal de Peter Hammill, que algumas vezes já foi chamado de o Jimmy Hendrix dos vocais, por causa do seu domínio de expressões. Muita gente também considera o Hammill um verdadeiro poeta por conta da qualidade de suas letras. Eu estou de acordo com a fama do sujeito.</p> <p class="MsoNormal">VDGG começou como uma banda de rock dos anos 60 sem grande expressividade, pois apesar da qualidade do som deles, ainda era uma coisa muito comum. Com a entrada do saxofonista David Jackson na banda, o som deles começou a mudar em direção ao que se tornaria o jeito característico do grupo, e cuja expressividade máxima está <st1:personname productid="em Pawn Hearts." st="on">em Pawn Hearts.</st1:personname></p> <p class="MsoNormal">Podemos considerar, então, este disco como o melhor exemplo do que é VDGG. A sonoridade tensa, as letras profundas, um pouco de psicodelia, e, principalmente, o vocal de Hammill. VDGG não é, definitivamente, uma banda fácil de se escutar, porque é tudo muito expressivo e denso, o que faz com quem não esteja acostumado, veja aquilo como puro exagero. Eu mesmo, a primeira vez que escutei, detestei. Só aos poucos é que se vai acostumando com o som da banda e com a voz de Hammill. Mas quando se acostuma, se é muito bem recompensado.</p> <p class="MsoNormal">Pawn Hearts é o melhor disco da banda, sem dúvida. Com apenas 3 grandes músicas (não falando só em qualidade, mas em tamanho mesmo!), ele consegue falar sobre muitas coisas, tanto com sua poesia quanto com sua música. Me conquistou por ser um disco maduro, pesado, às vezes até cruel, mas genial. Recomendadíssimo pra quem conseguir escutar. </p> <p class="MsoNormal">Destaque: a última música, A plague of ligthhouse keepers, que, falando sobre um naufrágio, reflete sobre a condição humana no momento da morte</p><br /><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" latentstylecount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:#0400; mso-fareast-language:#0400; mso-bidi-language:#0400;} </style> <![endif]--> <p class="MsoNormal"><span style="" lang="EN-US">2º Lugar: <a href="http://rapidshare.com/files/82930488/FZ-1967-We_reOnlyInItForTheMoney_demos_.rar"><b style="">We’re Only In It For The Money</b></a> – <i style="">Frank Zappa and The Mothers of Invention</i><o:p></o:p></span></p><br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLQVQud0jy4O-tpKA9QVY55CZBadI-sWnflcGz8yky0KvhCKxePSmsfuUnE-Ad_TNN5K6n2OaFUJub5q9zHF9rZKZc-EMthzHUBiV33kHcsSAfsjMbGGALcCsdnBPSizl_iG8r-PP_LAUW/s1600-h/were.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLQVQud0jy4O-tpKA9QVY55CZBadI-sWnflcGz8yky0KvhCKxePSmsfuUnE-Ad_TNN5K6n2OaFUJub5q9zHF9rZKZc-EMthzHUBiV33kHcsSAfsjMbGGALcCsdnBPSizl_iG8r-PP_LAUW/s320/were.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5377455984195005202" border="0" /></a><p class="MsoNormal"><span style="" lang="EN-US"><i style=""></i><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="" lang="EN-US"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal">Escolher o disco favorito de Frank Zappa é difícil pra qualquer um, já que o sujeito tem uma discografia simplesmente gigantesca, com mais de 60 álbuns de estúdio (espero não estar enganado). Como FZ é, sobretudo, um cara que me diverte, resolvi ficar com esse.</p> <p class="MsoNormal">Em 1968 Zappa iria lançar um disco chamado Our Man in Nirvana, que combinaria sua música com as piadas do comediante americano <i style="">Lenny Bruce</i>. Mas aí ele viu que os <i style="">Beatles</i> faziam um enorme sucesso com seu <span style=""><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Sgt._Pepper%27s_Lonely_Hearts_Club_Band" title="Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band"><span style="text-decoration: none; color: rgb(0, 0, 0);">Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band</span></a>, e resolveu fazer um disco que satirizasse a influência do flower power na sociedade americana. Além disso, os Beatles levaram o crédito por terem inventado o disco conceitual, quando Zappa já o havia feito um ano antes, com seu Freak Out. É então matando dois coelhos com blábláblá que surge o We’re Only..., com o qual Frank Zappa alertava os perigos da alienação do flower power ao mesmo tempo em que fazia sua pequena vingança contra os Beatles (mas eles eram amigos, não confundam as coisas!).<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="">Com o We’re Only... Zappa continua com o que faz de melhor: desconstruir imagens. Ele não só satiriza o flower power, mostrando o lado alienado do movimento, como o faz com o lado oposto, criticando o conservadorismo americano. Ou seja, ele ataca tanto a “cultura” como a “contracultura”, não se limitando, portanto, a uma única visão política como costuma acontecer com os militantes xiitas, sejam de esquerda ou de direita. Ele não busca oferecer uma solução, como geralmente se faz na política, mas mostrar os problemas para que possam ser pensados por uma outra ótica que não só a oposta. É nisso, pra mim, que está sua força enquanto crítico.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="">We’re Only... é um disco fantástico que brinca tanto com os aspectos ideológicos dos movimentos, como com os aspetos formais; assim, o disco nos apresenta os jeitos cristalizados de se fazer rock’n roll, mas de forma totalmente desconstruída pelas influências de Zappa, como o jazz e o avant-garde francês. Tudo isso com muito bom humor e qualidade, além de uma dos melhores capas e nomes de disco da história do rock.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="">Destaque: Let’s Make The Water Turn Grey, ótima música que parece dizer uma coisa idiota, mas que quando você analisa profundamente, vê que é mesmo idiota.<o:p></o:p></span></p><br /><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" latentstylecount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:#0400; mso-fareast-language:#0400; mso-bidi-language:#0400;} </style> <![endif]--> <p class="MsoNormal"><span style="" lang="EN-US">1º Lugar: <a href="http://rapidshare.com/files/100688649/Pink_Floyd_-_Dark_Side_Of_The_Moon.zip"><b style="">Dark Side Of The Moon</b></a> – <i>Pink Floyd</i><o:p></o:p></span></p><br /><br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNmKTVkytWm68HpaPfnTvXOa6Vy5Xan3cb9xfva5Rf7ZNF-o_06uuBFGh_rpksnCVbiGB0X0aLgO4-FHmwpIjUr_SZFmKtrWydGNyFGYGkSsZSg8X5jGcM3hZ_OM9586VX5wX7KplrT4WS/s1600-h/dark_side.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNmKTVkytWm68HpaPfnTvXOa6Vy5Xan3cb9xfva5Rf7ZNF-o_06uuBFGh_rpksnCVbiGB0X0aLgO4-FHmwpIjUr_SZFmKtrWydGNyFGYGkSsZSg8X5jGcM3hZ_OM9586VX5wX7KplrT4WS/s320/dark_side.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5377455989443510738" border="0" /></a><br /><br /><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" latentstylecount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:#0400; mso-fareast-language:#0400; mso-bidi-language:#0400;} </style> <![endif]--> <p class="MsoNormal"><span style="">Bem, logo de cara eu sabia que o primeiro lugar da lista seria um do Pink Floyd, minha banda favorita ever. Mas qual, era a dúvida. Amo a maioria dos discos deles, e escolher apenas um pro primeiro lugar foi terrível. Então, tentei fazer uma associação livre: pink floyd melhor disco: dark side, foi o que veio de cara. Ficou.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="">Acredito que todo mundo que leia meu blog conheça ou tenha ouvido falar nesse disco, que é tão rico e complexo, que eu não me atrevo a falar sobre seus aspectos. Procurem na net, e vejam. Só digo que é ele representa pra mim: um disco fantástico, nebuloso, melancólico, espacial, onírico, profundo, lindo. Eu sempre me emociono quando imagino a lua cobrindo o sol no final do disco. E quando o coração bate, parece que eu morro e nasço novamente junto com o disco.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="">Destaque: Time e The Great Gig in The Sky, a primeira pela letra e pelo solo de guitarra e a segunda pela voz de </span>Clare Torry.</p><p class="MsoNormal"><br /></p><p class="MsoNormal">PS: os links pra download dos discos estão no nome.<br /></p><br /><br /><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" latentstylecount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:#0400; mso-fareast-language:#0400; mso-bidi-language:#0400;} </style> <![endif]--><p class="MsoNormal"><br /><span style="text-decoration: underline;"></span></p><p class="MsoNormal"><br /></p>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00485085066318740802noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-3420475917376518413.post-83090775015905605922009-08-29T18:48:00.000-07:002009-10-27T08:29:20.508-07:00EpifaniaUm dia, qualquer, numa manhã ou tarde sentimentalmente ensolarada ou chuvosa, eu encontro isso, o que desencadeia em mim uma viagem transcendental, e começo, a princípio lentamente, como quem aprende a caminhar numa calma paisagem, a perceber que a matéria da realidade não é composta de átomos e suas ligações, mas sem de sonhos e poesia, e daquela reviravolta que acontece no centro do que somos quando descobrimos algo novo, e isto me transforma num ser completamente diferente e ao mesmo tempo tão natural que é impossível não me reconhecer nele, e isto acontece justamente porque somos seres divididos, um pé na realidade imutável e outro naquela nova, feita de nós, e assim, descubro que se conhecer é se reconhecer deste jeito, incompleto, bipartido, ou multipartido, dependendo de quantas realidades somos capazes de encontrar, e de como posicionamos nossos pés durante nossa existência, às vezes os dois em um lugar só, às vezes cada um num canto, às vezes milhares de pés em lugares distintos, e ao me dar conta de que é possível, e mesmo comum, ao ser humano, possuir milhares de pés ao invés de somente dois, eu chego ao ápice disso, o que me dá a sensação de transexistir, por entre todo meu próprio tempo e espaço, como seria normal de se esperar, se nos dermos a possibilidade de imaginar um pouco mais do que somente aquele salário futuro, mas também por todo tempo e espaço de toda humanidade, pois o que há em mim é parte do que havia em todos os homens antes de mim, e do que há em todos os homens que vivem comigo neste agora, e do que haverá em todos os que viverem depois de mim, e é nisto que reside a minha eternidade, pois enquanto houver o pensar e o sentir e a memória capaz de gravar tudo isto, haverá eu e eu existirei por todo o sempre mesmo que minha própria alma se dissolva neste infinito que sou eu, e depois de tomar consciência de todos estes fatos eu entro em declínio logo, num tempo que se passa como num respirar de um recém-nascido, eu volto ao meu estado normal, e passo a ser somente eu sozinho com o que sobrou disso. E estes restos eu guardo como que esperando que um dia eles me levem novamente ao lugar magnífico que eles, na forma disso, um dia me levaram, mas eu sei que da mesma forma que eles sempre serão somente restos disso que pertence a tudo, e que nunca voltarão a ser isso que um dia foram, eu nunca mais voltarei ao mesmo lugar que estive, porque na verdade nunca saí de lugar algum.<br /><br /><span style="font-style: italic;font-size:85%;" >Texto ruim, assumo; mas queria postar algo, veio isso. Perdoem-me.</span>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00485085066318740802noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-3420475917376518413.post-85183721231297879182009-08-17T06:58:00.000-07:002009-10-27T08:29:05.497-07:00<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikgjU5PIkN8MZRVgxoTWHLe7PRreXiMRuU9S641CCjnHSlMvz6gZ8ZgKrNWAdN8in56ovxGimAKe1B-eTOnXm5q81X-0d-OReWbquiFghKzyfXexOsFXDYZQBbm7EDZksFaZWCAbCY8h-G/s1600-h/tiri14.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 372px; height: 370px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikgjU5PIkN8MZRVgxoTWHLe7PRreXiMRuU9S641CCjnHSlMvz6gZ8ZgKrNWAdN8in56ovxGimAKe1B-eTOnXm5q81X-0d-OReWbquiFghKzyfXexOsFXDYZQBbm7EDZksFaZWCAbCY8h-G/s320/tiri14.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5370931963425277186" border="0" /></a><br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-style: italic;">Querendo bancar o espertinho, hein garoto?</span></span>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00485085066318740802noreply@blogger.com5