quinta-feira, 24 de junho de 2010

Divindade Espontânea

Imagine que você é Deus.

Imagine que você é onipotente, onisciente e onipresente, e que, apesar de seu feito de amor, é justo e ao mesmo tempo cruel, piedoso e temível, além de orgulhoso, excêntrico e de extremo bom gosto. Talvez você nem seja assim de verdade, porém essa será a imagem que terão de você.

Agora pense em um lugar qualquer, contanto que seja vivo: ou seja, que possua águas, plantas, rochas e bichos. Este será o lugar onde você poderá construir o seu mundo, e este mundo, enquanto permanecer assim, será perfeito em sua simples harmonia, e continuará perfeito até que você cometa seu primeiro erro.

Digamos, então, que seu primeiro erro será colocar um outro homem dentro desse mundo, alguém que seja à sua imagem e semelhança (não esqueça jamais: você não é Deus, apenas imagina que é). Talvez isso não represente um erro propriamente dito, pois, enquanto esse homem estiver sozinho, poderá viver dentro da simples harmonia que o seu mundo já possui; terá de adaptar-se, é verdade, e é bem possível que ele sofra um pouco; mas conseguirá, e assim a perfeição do seu mundo irá prosseguir conforme já havia sido planejada desde que nascera. Mas muito provavelmente você, não contente em ver que o seu homem está a viver tranqüilo dentro da simples harmonia do seu mundinho perfeito, vai sentir vontade (e esta talvez seja uma pequena travessura do seu lado mais infantil) de colocar lá dentro mais alguém como vocês, só pra ver no que vai dar e como já existe um homem, o senso comum obrigar-lhe-á a colocar uma mulher – que é tida, às vezes, como a contraparte do homem – dando assim um maior contraste à coisa toda, ao mesmo tempo em que, quem sabe ironicamente, mantém um equilíbrio necessário à perfeição do seu mundinho, o que, aliás, seria absolutamente impossível de ocorrer caso houvesse lá dois homens ou duas mulheres.

Este, em si, assim como no outro caso, não terá sido seu primeiro erro; porém a união dos dois sim. Pois imagine só que da união do homem e da mulher nascerá outro ser humano; e que de uma segunda união nascerá um segundo ser humano; e que isso se repetirá até que tenham nascido vários filhos dos seus primeiros semelhantes; e que esses filhos também irão unir-se entre si, criando assim uma terceira geração, e que da relação entre a terceira geração levará à quarta, que trará a quinta, que fará a sexta, que gerará a sétima e assim sucessivamente; e que logo o seu mundo perfeito está cheio de outros iguais à você, destruindo assim a simples harmonia que demorou tão pouco tempo, mas que foi sublime enquanto isso. Tente perceber qual será sua dor ao tomar conhecimento de seu primeiro erro e o que ele causou, mesmo assim ele será só o primeiro.

Imagine agora que talvez por raiva, ou por pena, ou até por um simples capricho seu, você ensinará coisas diferentes a pessoas diferentes. A alguns você dirá que se chama Deus e pregará a justiça, a outros dirá que seu nome é Vontade, e ensinará a força e a perseverança, em outro lugar você será conhecido por Universo e sua doutrina será o ócio; e para alguns, os mais terríveis, será chamado por Diabo e tudo o que for feito em seu nome será roubo, dor e assassinato. Pelo mesmo motivo que você se mostrou de formas diferentes a pessoas diferentes, colocará essas pessoas em lugares totalmente diversos um dos outros. A uns a terra será frutífera e bela; a outros, seca e dura; a alguns, gelada demais para se viver, e a outros, quente demais; terras montanhosas, planas, feias, estranhas, úmidas, pequenas, vastas, todos os tipos de lugares, e em cada um deles viverá um tipo de homem diferente.

Continue imaginando que todo esse seu capricho (ou justiça, ou piedade, ou qualquer nome que você queira dar, e que se aplique melhor à sua personalidade – ou não) não terminará por aí, lembre-se que você é Deus, e que é infinito, assim como os seus delírios. As doutrinas que você pregou a cada um desses grupos de pessoas, ou povos, revelar-se-ão doentias nas mãos e mentes desses seus filhos-irmãos assim que começarem a aparecer com maior força as características que você possui e que eles herdaram. Pois você, como homem, é pequeno, covarde e mesquinho; e assim serão as religiões que você ajudou a construir. Sua intolerância e preconceito criará escravidão e injustiça; sua cobiça e desprezo fará guerra; sua mesquinhez e preguiça gerará fome; sua falta de amor e altruísmo, morte.

Agora imagine, por fim, que você, como Deus, poderá prever a tudo isso e que por sua culpa e por conta de seus erros, seus filhos-irmãos viverão num mundo cheio de dor, aflição, injustiça e sofrimento.

Mas mesmo assim, se eles acharem que estão sem você, vão pensar que estão no inferno.

Um comentário:

yasahirowagley disse...

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