domingo, 27 de setembro de 2009

MICROCONTOS

Tava olhando o blog do meu amigo Dj, e vi que ele se enveredou no mundo pitoresco dos microcontos. Como bom invejoso que sou, resolvi imitar na cara dura. Fiz esses daí agorinha, como experiência. Tentei fazer com no máximo 140 caracteres, à la Twitter. O resultado não ficou muito bom, mas é até engraçadinho. Confiram aí:


Esquizofrenia I

- Doutor, eu tenho cura?

- Espero que não, senão eu é que me fodo!


Dialética

- Eu quero.

- Eu não.

- Então vai na mão.


Doutrina

O genial não foi ele ter pensado pelos outros, mas ter feito parecer que eles pensavam por si próprios.


Esquizofrenia II

- Você é muito feio!

- E você muito autocrítico.


Concepção

- Fiz um poema.

- E cadê ele?

- No berço, dormindo.


O Vampiro da Capital.

Convidaram ele para entrar em casa e depois ficaram putos que lhes chupou o sangue.


O Vampiro do Capital.

Convidaram ele para entrar em casa e todo dia arrumam quem não tem casa para ele chupar o sangue.


Quem quiser conferir os microcontos de Dj, não tenham medo e cliquem aqui! E quem sabe depois eu não escrevo mais?

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O homem sem rosto

Ele era uma daquelas pessoas que costumam chamar de “cidadão modelo”, “pai de família”, “empregado do mês”, etc. De casa para o trabalho, do trabalho para casa. Férias com a família por todo o país, exterior quando juntavam dinheiro. Família grande, reunida. Pouca bebida, charutos cubanos, só. Comunhão no fim de semana, roupas bonitas. Amigos em casa, churrasco. Jornal do horário nobre, não queria parecer ignorante no trabalho. Bom trabalho, aliás. Chefes satisfeitos, subordinados admirados. Nem muito conservador a ponto de ser chamado de reacionário. Nem muito liberal a ponto de ser chamado de revolucionário. Era assim mesmo: andava bem em cima da linha, nem um passo lá, nem um passo cá.

Mas aconteceu de um dia, enquanto ele dormia e sonhava os mesmos sonhos de sempre, entrarem na sua casa e levarem embora o seu rosto. Quando ele acordou na manhã seguinte, olhou-se no espelho do banheiro e viu que não via nada no lugar da sua face, só um vazio de manequim. Imediatamente ficou revoltado com aquilo, imaginando que bandidos haviam entrado na sua casa sorrateiramente e roubaram, sem a menor honra, seu rosto. Gritando de raiva, pensou em ligar para a polícia, mas quando pegou o aparelho de telefone percebeu um papel com um carimbo do governo federal. Era uma ordem de apreensão. Dizia que seu rosto havia sido recolhido por causa de várias irregularidades que constavam no sistema, todas elas listadas num linguajar incompreensível que falava de leis, códigos, números e atos, entre outras coisas do jargão jurídico. Junto com a ordem estava uma intimação para ver um juiz e dar seu depoimento naquela mesma manhã. Acalmou-se, vestiu seu melhor terno, e, despedindo-se da sua família que o olhava sem grande espanto, resolveu que iria solucionar seu problema naquele mesmo dia com o juiz.

Confiante, nem se lembrou de chamar seu advogado. Chegou sozinho ao fórum e mostrou a intimação à recepcionista, que, como se retirasse sofrivelmente das suas estranhas a força para parecer prestativa, indicou metodicamente a sala na qual ele esperaria até ser chamado para falar com o meretíssimo. Lá ficou por horas até ser chamado, suando na pequena e sufocante sala. Quando entrou na sala do juiz, estava todo desgrenhado, havia tirado o paletó e tinha manchas de suor enormes debaixo do braço. O juiz, ao vê-lo naquele estado, o suor descendo livremente por onde antes era seu rosto, olhou-o com repugnância e foi logo fazendo uma série de perguntas, tais como, onde o senhor estava na noite de 15 de outubro, quanto ganha por ano, para que time de futebol o senhor torce, com quantas mulheres ou homens o senhor já teve relações sexuais durante sua vida, em quem o senhor votou nas últimas eleições, e mais uma centena de indagações que pareciam não ter nenhuma ligação com o desaparecimento do seu rosto. Desaparecimento não, corrigiu o juiz ao ser indagado, recolhimento, e estas questões estão totalmente ligadas ao seu caso, portanto não se atreva a respondê-las falsamente, e massacrou o homem com mais uma série de perguntas que durou uma pequena eternidade. Quando o inquérito finalmente cessou, e ele, exausto, pensou que teria seu rosto de volta, o juiz mandou que ele aguardasse o contato do fórum que indicaria o andamento do seu caso. E com um aceno de mão apressado, expulsou-o de sua sala.

No outro dia o homem procurou seu advogado, perguntando o que poderia ser feito. Este, após ouvir seu cliente e requisitar no fórum todos os arquivos disponíveis do processo, explicou ao homem, em advoguês, que nada poderia ser feito além de fazer um requerimento e esperar o andamento do caso. O homem não se contentou com a resposta e procurou um advogado mais conceituado e mais caro, que apenas lhe disse as mesmas coisas de uma forma ainda mais complicada. Sem saber mais o que fazer, o homem decidiu retornar à sua rotina e esperar que o mundo burocrático desse suas voltas.

Mas levar a rotina sem o seu rosto acabou se revelando terrivelmente angustiante para o homem, que se sentia como se estivesse nu. A solução para este problema ele encontrou quando passava, acidentalmente, em frente a uma loja de artigos cenográficos e teatrais, e viu, expostas na vitrine, muitas máscaras de variados tipos. Imediatamente entrou e comprou uma máscara de um homem respeitável, cabelos penteados, barba feita, olhar de seriedade, que lembrava bastante a expressão rotineira do seu próprio rosto. Quando colocou a máscara, esta se grudou ao que antes era o seu rosto, tornando-se uma face perfeita e impossível de ser identificada como uma face artificial. Olhou-se no espelho e percebeu, satisfeito, que embora a máscara representasse o rosto de um outro homem, era perfeitamente possível reconhecer sua própria identidade; assim, ninguém o confundiria com outra pessoa nem deixaria de identificá-lo caso o conhecesse.

Viveu desse jeito por muito tempo. Mas com o passar dos dias, começou a se sentir vazio, e percebeu que algo lhe faltava em alguma região do corpo ou da alma. Descobriu que era seu rosto antigo, pois mesmo satisfeito com o novo, ainda sentia dentro de si que aquele que via no espelho não era realmente ele. Enjoado da nova face, decidiu passar novamente na loja de máscaras e comprar uma nova, desta vez de um homem mais jovial e alegre, que lhe deu uma nova alegria no coração assim que substituiu a face antiga. Sentia-se muito bem, queria viajar, conhecer coisas novas, cantar na rua sem vergonha de parecer ridículo, escrever um livro de poemas. Queria viver.

Mas novamente, conforme foi passando o tempo, foi enjoando no novo rosto, e teve de trocá-lo mais uma vez. E isso foi se repetindo por vários anos, até que se tornou velho e já não sabia mais quem era.

Muito tempo e muitas máscaras depois (agora ele estava usando a máscara de um dog alemão, amargo e velho), ele teve de passar num cartório para dar entrada nuns papéis do seu seguro de vida, quando o funcionário que o atendia encontrou num envelope amarelado que estava nos fundos dos arquivos, o seu velho rosto. O funcionário do cartório mostrou o envelope para o homem, que ao abri-lo, encontrou um documento, datado de muitos anos anteriormente, dizendo que o rosto estava livre de acusações e suspeitas e por isso deveria ser entregue ao dono, com as devidas condolências. O homem, emocionado, perguntou porque nunca havia recebido o seu rosto de volta e o funcionário respondeu que provavelmente havia ocorrido um erro humano e burocrático, levando o rosto a ficar esquecido nos arquivos do cartório.

O homem não ficou irritado nem revoltado; apenas retirou, num gesto cansado, seu antigo rosto do envelope e deitou sobre ele um olhar misto de saudade e esquecimento. O rosto, provavelmente por causa dos anos que passara perdido dentro de um envelope em um arquivo velho, sujo e mofado, estava todo amassado, com algumas manchas aqui e outros rasgões ali. O homem, entretanto, tirou a máscara de cachorro e vestiu seu antigo rosto, mesmo estando ele deformado pelo abandono. Em seguida voltou pra casa e nunca mais falou sobre esse assunto até o dia da sua morte.



quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Estátua de sal

Ele era um mendigo sujo, desses que encontramos aos montes por aí. Carregava sempre um saco nas costas que usava como mochila para levar suas poucas tralhas, não se sabia ao certo o quê. A calça coronha deixava à mostra suas pernas finas e cheias de feridas que sangravam a todo momento, e, como não tinha muita força para caminhar, usava um cabo de vassoura como bengala. Isso lhe dava um certo diferencial entre os outros mendigos, um ar de originalidade. Isso para aqueles que sempre querem ver uma espécie de lado positivo nas coisas, pois todos sabiam que era pura e simples necessidade mesmo; era possível perceber, se você prestasse atenção, a expressão de vergonha em seus olhos, andando com aquelas feridas abertas e se apoiando no ridículo cabo de vassoura verde.

E não era só vergonha que se via nos olhos do mendigo, mas sobretudo um ódio amargo por todos os outros seres humanos que passavam por perto dele. Conforme gastara o tempo naquela vida de mendigância, fora desenvolvendo uma misantropia de quem se cansa de ser o tempo todo cuspido e escarrado. Por isso só aceitava, e ainda assim lançando um olhar maligno para quem dava, o mínimo de esmola necessário para manter suas necessidades básicas, a bebida aí inclusa. Beber, aliás, era a única coisa que detestava menos em todo o resto da sua existência, justamente porque o fazia ver com melhores olhos aquela porcaria toda que o cercava e que parecia começar em si mesmo para só então abarcar o resto do mundo. Mas depois que acordava no dia seguinte, e da bebida só lhe restava a podridão na boca e as brasas no estômago, maldizia seu vício patético, embora sem muita raiva, pois sabia que logo começaria a busca para alimentá-lo.

Assim deixava os dias se passarem, embriagado de álcool é ódio. Até que um dia cansou-se dessa merda toda e resolveu se sentar e esperar pela morte.

Procurou um banco de uma praça movimentada, para que não se esquecesse do motivo de sua decisão e resolvesse mudar de idéia. Comprou uma garrafa de cachaça barata, acomodou-se no banco e, inclinando o corpo para frente, apoiou o queixo em cima da bengala, sua posição de espera característica. De vez em quando dava um gole da cachaça, mas não muito, porque não queria beber demais e acabar dormindo e assim correr o risco de deixar a morte passar.

Não se sabe muito bem quanto tempo ficou assim, nem quanto da bebida chegou a tomar, e nem muito menos que espécie de Gomorra em chamas ele viu, mas aconteceu de um dia alguém perceber que ele se tornara uma estátua de sal. Mas não esse sal comum, que a gente tem na cozinha e tempera a comida; era um sal duro, escuro e amargo, que deixava um cheiro de pântano nos arredores do banco onde a estátua repousava.

Não é todo mundo que acredita que aquilo é uma estátua de sal, e tem uns céticos mais corajosos que insistem em provar a estátua, passando a língua em alguma parte dela. Todos eles, depois de tal ato de coragem, confessaram que passaram dias com a língua cortada e o com um gosto amargo castigando a boca.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

TOP 5 – MEUS CINCO DISCOS DE ROCK FAVORITOS

TOP 5 – MEUS CINCO DISCOS DE ROCK FAVORITOS

Há algum tempo eu queria falar de música aqui no blog, mas não sabia exatamente sobre qual assunto. Me ocorreu então fazer uma coisa bem clichê e listar os melhores discos de rock que eu já havia escutado. Mas, quando comecei a pensar no assunto, percebi que seria muito difícil fazer tal lista, pois haviam muitos critérios que eu poderia usar pra fazê-la. Escolhi então o mais subjetivo de todos, meu gosto pessoal. Eu sei que este blog não era pra ser um blog pessoal, mas vou fazer essa exceção, então me perdoem. A idéia é mostrar um pouco de música diferente, porque meu gosto musical não é tão convencional assim, pelo menos se tratando de rock. Vou tentar colocar os links dos discos pra download, pois se alguém se interessar pode baixar e ver se concorda comigo ou não. Pelo menos escuta alguma coisa nova.

Uma coisa interessante deste post, é que ele está sendo feito em conjunto com meu amigo Dj, que vai fazer a mesma lista no blog dele. Então não deixem de dar uma passada lá e ver o que ele preparou pra gente. E fica a idéia aí pra quem tem blog também, de fazer a mesma coisa. Dessa forma nós compartilhamos novos sons pra novas pessoas, e a música se movimenta.

Após o preâmbulo de praxe, vamos à lista:


5º Lugar: Rock Bottom - Robert Wyatt


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Robert Wyatt, ex-baterista do Soft Machine (pra quem não conhece, recomendo também), tocava na sua banda nova, o Matching Mole, até que, em 1973, caiu do 3º andar numa festa e ficou paraplégico. Sem poder tocar bateria na sua banda, começou uma carreira solo e lançou o disco que é considerado sua obra-prima, o Rock Bottom. Apesar de ele dizer que o disco não tem nada a ver com sua condição, o próprio nome do disco parece desmentir: rock bottom é uma expressão que corresponde no português a no fundo do poço. As letras são tensas, ressentidas e ácidas, e muitas vezes beiram o nosense, como no caso de Alifib e Alifie; notem, inclusive, como Alifib (uma música que parece falar sobre a relação do autor com sua esposa, mostrando como se ele a usasse) começa com Wyatt fazendo um som como se respirasse com dificuldade.

Conjecturas à parte, Rock Bottom é um disco que me surpreendeu pela beleza e inovação. As músicas são bem diferentes umas das outras, embora cada uma mantenha uma estrutura central que se repete ao ponto de parecer, às vezes, música ambiente. Mas sem aqueles clichês de tecladinhos fazendo os mesmos acordes. Em Rock Bottom o que mais aparece é experimentalismo, com melodias estranhas, timbres diferentes, as letras fantásticas, e a voz de Wyatt, esquisita, mas que se torna bonita quando se acostuma. É um daqueles discos que se escuta e se percebe que lá estão concentradas várias idéias que serão desenvolvidas mais tarde na música. Outra coisa interessante neste disco é que, apesar de eu o ter colocado na última posição, é o único da lista que eu gosto e recomendo escutar e prestar atenção em todas as músicas, pois cada uma encerra uma idéia diferente que vale a pena ser digerida. Um disco realmente bonito e triste, mas ao mesmo tempo esperançoso.


4º Lugar: Kid ARadiohead



Não acho que seja preciso falar do Radiohead aqui, pois todo mundo conhece. Inclusive, esse é o único disco da lista que foi feito depois dos anos 70. Então vou só me concentrar em explicar o porquê dele estar aqui.

Escolher o melhor disco do Radiohead pra mim é difícil, porque sou muito fã de quase tudo o que a banda produziu. Inclusive, fiquei em dúvida sobre qual disco eu escolheria: o Kid A ou o Ok Computer. Mas, embora eu considere o Ok Computer como um dos discos mais importantes de rock do final do século/milênio passado (por ser um daqueles tipos de arte que representam profundamente a época em que foi produzido), esta lista vai pelo gosto pessoal, e não por critérios impessoais. Por isso fiquei com Kid A.

O que me chama atenção neste disco? Primeiro, a quebra com os paradigmas de como se deve fazer rock: aqui quase não existem guitarras (que são substituídas por um monte de barulhinhos), o som é cerebral, mecânico, sintético (uma tendência que já vinha sendo desenvolvida a partir do Ok Computer). Depois, a coragem de fazer experimentalismo quando a banda vinha se consagrando no mainstream alternativo (sic). Por último, a qualidade radioheadiana que me conquista em todos os discos, a beleza das canções, a expressão de Tom York, e a contemporaneidade da produção da banda. Em alguns aspectos, Kid A lembra Rock Bottom. Se ficaram curiosos, baixem e digam se concordam ou não.

Destaque: The National Anthem, louca e política, e melhor do álbum, sem dúvida.


3º Lugar: Pawn HeartsVan Der Graaf Generator


Este terceiro lugar foi difícil de eleger, porque não sabia se ele seria o terceiro ou o segundo; portanto, encarem ele e o segundo lugar como posições móveis, que podem se substituir um ao outro.

Van Der Graaf Generator é uma banda inglesa pouco convencional. Sua formação clássica é dois teclados, bateria e saxofone, ou seja, sem baixo nem guitarra. Outra coisa que diferencia o VDGG é o vocal de Peter Hammill, que algumas vezes já foi chamado de o Jimmy Hendrix dos vocais, por causa do seu domínio de expressões. Muita gente também considera o Hammill um verdadeiro poeta por conta da qualidade de suas letras. Eu estou de acordo com a fama do sujeito.

VDGG começou como uma banda de rock dos anos 60 sem grande expressividade, pois apesar da qualidade do som deles, ainda era uma coisa muito comum. Com a entrada do saxofonista David Jackson na banda, o som deles começou a mudar em direção ao que se tornaria o jeito característico do grupo, e cuja expressividade máxima está em Pawn Hearts.

Podemos considerar, então, este disco como o melhor exemplo do que é VDGG. A sonoridade tensa, as letras profundas, um pouco de psicodelia, e, principalmente, o vocal de Hammill. VDGG não é, definitivamente, uma banda fácil de se escutar, porque é tudo muito expressivo e denso, o que faz com quem não esteja acostumado, veja aquilo como puro exagero. Eu mesmo, a primeira vez que escutei, detestei. Só aos poucos é que se vai acostumando com o som da banda e com a voz de Hammill. Mas quando se acostuma, se é muito bem recompensado.

Pawn Hearts é o melhor disco da banda, sem dúvida. Com apenas 3 grandes músicas (não falando só em qualidade, mas em tamanho mesmo!), ele consegue falar sobre muitas coisas, tanto com sua poesia quanto com sua música. Me conquistou por ser um disco maduro, pesado, às vezes até cruel, mas genial. Recomendadíssimo pra quem conseguir escutar.

Destaque: a última música, A plague of ligthhouse keepers, que, falando sobre um naufrágio, reflete sobre a condição humana no momento da morte


2º Lugar: We’re Only In It For The MoneyFrank Zappa and The Mothers of Invention


Escolher o disco favorito de Frank Zappa é difícil pra qualquer um, já que o sujeito tem uma discografia simplesmente gigantesca, com mais de 60 álbuns de estúdio (espero não estar enganado). Como FZ é, sobretudo, um cara que me diverte, resolvi ficar com esse.

Em 1968 Zappa iria lançar um disco chamado Our Man in Nirvana, que combinaria sua música com as piadas do comediante americano Lenny Bruce. Mas aí ele viu que os Beatles faziam um enorme sucesso com seu Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, e resolveu fazer um disco que satirizasse a influência do flower power na sociedade americana. Além disso, os Beatles levaram o crédito por terem inventado o disco conceitual, quando Zappa já o havia feito um ano antes, com seu Freak Out. É então matando dois coelhos com blábláblá que surge o We’re Only..., com o qual Frank Zappa alertava os perigos da alienação do flower power ao mesmo tempo em que fazia sua pequena vingança contra os Beatles (mas eles eram amigos, não confundam as coisas!).

Com o We’re Only... Zappa continua com o que faz de melhor: desconstruir imagens. Ele não só satiriza o flower power, mostrando o lado alienado do movimento, como o faz com o lado oposto, criticando o conservadorismo americano. Ou seja, ele ataca tanto a “cultura” como a “contracultura”, não se limitando, portanto, a uma única visão política como costuma acontecer com os militantes xiitas, sejam de esquerda ou de direita. Ele não busca oferecer uma solução, como geralmente se faz na política, mas mostrar os problemas para que possam ser pensados por uma outra ótica que não só a oposta. É nisso, pra mim, que está sua força enquanto crítico.

We’re Only... é um disco fantástico que brinca tanto com os aspectos ideológicos dos movimentos, como com os aspetos formais; assim, o disco nos apresenta os jeitos cristalizados de se fazer rock’n roll, mas de forma totalmente desconstruída pelas influências de Zappa, como o jazz e o avant-garde francês. Tudo isso com muito bom humor e qualidade, além de uma dos melhores capas e nomes de disco da história do rock.

Destaque: Let’s Make The Water Turn Grey, ótima música que parece dizer uma coisa idiota, mas que quando você analisa profundamente, vê que é mesmo idiota.


1º Lugar: Dark Side Of The MoonPink Floyd





Bem, logo de cara eu sabia que o primeiro lugar da lista seria um do Pink Floyd, minha banda favorita ever. Mas qual, era a dúvida. Amo a maioria dos discos deles, e escolher apenas um pro primeiro lugar foi terrível. Então, tentei fazer uma associação livre: pink floyd melhor disco: dark side, foi o que veio de cara. Ficou.

Acredito que todo mundo que leia meu blog conheça ou tenha ouvido falar nesse disco, que é tão rico e complexo, que eu não me atrevo a falar sobre seus aspectos. Procurem na net, e vejam. Só digo que é ele representa pra mim: um disco fantástico, nebuloso, melancólico, espacial, onírico, profundo, lindo. Eu sempre me emociono quando imagino a lua cobrindo o sol no final do disco. E quando o coração bate, parece que eu morro e nasço novamente junto com o disco.

Destaque: Time e The Great Gig in The Sky, a primeira pela letra e pelo solo de guitarra e a segunda pela voz de Clare Torry.


PS: os links pra download dos discos estão no nome.