segunda-feira, 30 de março de 2009



Alguém aí se lembra dessa empreitada?

domingo, 22 de março de 2009

SOPRO

... e eu dizia quem sabe o que está por vir, e o que importa, tudo pode ser possível e não se sabe mesmo o que há de ser, o verdadeiro é sempre aquilo que se está ao alcance dos dedos, eu pensava, mas na verdade sofria a cada vez que eu imaginava o dia de amanhã, uma coisa branca, pálida, inexistente, e eu sonhava com um espaço gigantesco sem terra, onde qualquer passo em falso era motivo para uma queda, e a cada queda eu sofria pelo peso da incompetência que me puxava cada vez mais e mais para baixo, algo me paralisava, eu ficava eternidades inteiras sem poder fazer nada, olhando o vazio como se de lá pudesse sair a solução de todos os dilemas humanos, e eu pensava em todos os homens sábios que já existiram nesse mundo, cada um deles, talvez, um dia, já devem ter parado sentados em cima de um monte ou debaixo de uma cachoeira ou mesmo observando o infinito do mar, e todos estes homens sábios já sofreram com um fogo no peito por não saber encontrar algo que nem ao menos perdido, algo que se sente brilhando por perto, do lado de dentro, mas de alguma forma, e ao mesmo tempo, exterior também, uma espécie de segredo que liga todos nós com nosso verdadeiro eu e com todos e talvez com deus também, mas quem não é deus senão um homem que soube amar da forma mais intensa possível a tudo o que ele já pôde um dia imaginar, e assim talvez isso seja a perfeição tão buscada por todos os homens sábios em cima dos montes e embaixo das cachoeiras e olhando para o mar eterno como um amor divino, ou mesmo uma das formas da perfeição ou um tipo de perfeição possível a todos aqueles que em algum momento de divindade resolveram sonhar com algo maior do que eles mesmos, com algo que não se poderia simplesmente tocar com os dedos e sentir sua superfície, se é áspero ou suave, e assim quem sabe saber o que fazer quando se olha uma criança com fome no meio da rua e se sente aquela dor na alma impossível de se escapar, mesmo quando se tenta fingir que não viu nada e que a vida segue com ou sem você fazendo coisas por ela, e que a responsabilidade nunca é sua porque você se recusou naquele momento a sonhar um pouco mais alto do que seus olhos estúpidos poderiam ver, e as barreiras instransponíveis só o são porque não há coragem o bastante para quebrá-las, e tudo isso é tão triste quando você começa a pensar em quão pequeno somos quando assim o queremos, e que os seres humanos são ridículos por serem os únicos no mundo que têm a capacidade de serem mais do que o são naturalmente e na maioria das vezes insistem em dizer que são menos do que na realidade são, e assim de pouco em pouco se vai perdendo a fé, até que não se agüenta mais e surge mais cedo ou mais tarde algum motivo para se olhar o vazio novamente e se questionar o que é que acontece ao redor e dentro da gente, e é aí que tudo retorna ao que era antes, sempre as mesmas banalidades, sempre os mesmos medos, sempre a mesma esperança, sempre a mesma iluminação, como todos os homens no mundo, como eu sempre costumava dizer que eu não sabia o que se estava por vir...

domingo, 15 de março de 2009

CDU MOLAMBO

CENTRAL SCRUTINIZER APRESENTA...

CDU MOLAMBO

Às sete da manha a jornada começa com nosso herói saindo de casa, na CDU, em direção à Federal onde estuda alguma coisa qualquer. Logo de início ele tem que atravessar um extenso percurso debaixo de um sol filho da puta que fustiga sua cabeça sonolenta. Vejam só: sua que nem um cavalo cansado.

CS: Ta foda aí, né?
H: Pô, total.
CS: E tu gosta de estudar?
H: Véi... é, né?

Andando mais um pouco o tempo dá uma de sacana e muda drasticamente: do nada cai um temporal, o que na CDU significa inundação. Nosso herói agora tem que se arriscar a pegar uma leptospirose ao andar por entre as poças gigantescas que se estendem por todo o terreno. Vejam aí: ele chega na Federal todo molhado, todo suado, porque o calor continua apesar da chuva, todo fudido.

CS: Tá chegando, né?
H: É, quero me formar, né?
CS: Tu gosta de materialismo histórico?
H: Gosto!
CS: Gosta de materialismo dialético?
H: Gosto!
CS: Gosta mais de materialismo histórico ou de materialismo dialético?
H: Gosto mais de materialismo histórico e mais de materialismo dialético também.

Dentro da Federal nosso herói agora tem que se esquivar dos vendedores de cartão de crédito, que atacam sem distinção. Numa estratégia clássica, ele diz que já tem o cartão; de todos as marcas, todas as bandeiras, todas as cores, pra todos da família, até a porra do chiuauazinho irritante que late o dia todo.

CS: Tu gosta de beber?
H: Opa, gosto!
CS: Gosta de Chateau lê Blanc 1968?
H: Gosto!
CS: Gosta de Carreteiro?
H: Carreteiro, não, ó aqui pra você! ( mostra o dedo)

Finalmente nosso herói chega ao seu prédio, mas... ahhhh, tá em greve!

CS: E agora?
H: Bem, agora é esperar os professores deixarem de vagabundagem, né?
CS: E tu quer estudar?
H: Pô, to precisando muito me formar, terminar meu curso, né?

Por fim nosso herói retorna todo o caminho de volta para casa. Nossa produção acompanha seus passos até que ele vai pro Bar da Fossa. Lá ele pede um carreteiro e vai encher a cara.

terça-feira, 10 de março de 2009

REFLEXOS

Desassossego. Um quarto desorganizado, papéis, roupas, o chão onde não se pisa. Um espelho e um reflexo nele; ou nada. Sem reconhecimento. Um caminho tortuoso, o cansaço, a falta de um apoio, alguém que diga o que fazer, o que pensar, o que sentir; o que ser. Ser e estar, em alheias línguas. Estar? Talvez. O conforto, o possível conforto do passageiro, do momentâneo, do mutável, esperança. No futuro, quem sabe, reconhecer-se. Próximo? Assim, tocável? Não: distante; como toda luta. Necessidade de movimento, de se levantar e continuar: busca. Mas do que, se não se sabe o quê? Novamente: cansaço. De nada. De não poder ser nada por não poder saber o que se quer. Querer ser único. Reconhecer-se entre o resto dos rostos, dos cheiros, das vozes, das idéias; desmassificar-se. Como? Não tão, mas simples: unir-se: juntar os pedaços, aquilo que é constante, que se admite facilmente: um começo. Depois, o mais difícil: exegese de si. Um trabalho, um projeto; uma vida. Isto é vida. Aceitar as discrepâncias, interiores e exteriores, o tempo, a imperfeição, a mortalidade: a si. Um olhar: o espelho: um reflexo, uma forma, uma pessoa. Ele; eu. Um símbolo. Aceitação.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Um Pequeno Conto Kafkaniano

Noite chuvosa num sábado de uma das capitais de uma das maiores potências (segundo dizem) da América Latina: um ônibus cruza uma das maiores avenidas deste mesmo continente, a toda velocidade, não se importando com as ruas molhadas. Neste ônibus está um K. (de Klêidisson) qualquer escutando tranquilamente músicas em seu mp3 player, sem se importar muito com o que acontece ao ser redor. De repente sobe no ônibus, pela porta de trás, um mulatinho de uns 8 ou nove anos, usando boné, uma blusa de mangas compridas, bermuda e chinelo de dedo. Agitado, vai até a parte da frente do ônibus e começa a entregar aos passageiros uns papeizinhos com os seguintes dizeres: “Meus pais estão desempregados, preciso de ajuda para comprar leite e alimentos para meus irmão menores. Qualquer coisa que puder me dar serve. Obrigado(a)”. Após jogar no colo de todos os passageiros tais papeizinhos, volta para a frente do ônibus e começa a recolhê-los junto com as poucas contribuições. K. observa como alguns passageiros dão apenas algumas poucas moedas, como outros entregam o papelzinho de volta sem nem olhar para o menino, e como o próprio menino recolhe-os sem nem olhar direito para o passageiro, como é o caso de K. Quando termina a colheita, puxa a corda e desce para a noite que espera lá fora com sua chuva forte encharcando ate os ossos. Após presenciar tal cena terrível, K. reflete:
“Será que eu chego a tempo de ver o jogo do Brasil?”

quarta-feira, 4 de março de 2009

Central Scrutinizer (continuação - começar abaixo)

Como político, procurou através das músicas transmitir algumas idéias que deveriam ser mais explicadas nas entrevistas que dava. Percebeu, por um lado, o perigo da contracultura como uma forma de alienação, por não encarar de frente os problemas da sociedade moderna capitalista, e ficar só se escondendo atrás do sexo, drogas e rock’n roll: ou seja, o lado apolítico da contracultura. E por outro, a burrice da sociedade americana do seu tempo (e provavelmente de todos os tempos), os tabus conservadores, a falta de consciência política dos seus compatriotas. Xingou bastante, é verdade. E não disse o que deveria ser feito, embora tenha se candidatado à presidência dos EUA. Mas não fazia parte do seu projeto dizer o que fazer, mas o que não fazer. Talvez seja uma tarefa mais fácil, mas com certeza exige uma consciência não tão comum assim a todos.

E era um escroto, verdade seja diga. Mas era engraçado, como um picariano. E como artista, de uma enorme competência técnica e criativa. Podem então não gostar, gande parte das pessoas. Mas que o Francesco Zappa era bom, isso era. E ainda é.

Central Scrutinizer (em defesa do Frank Zappa)

Central Scrutinizer é um personagem da opereta rock do Frank Zappa chamada Joe’s Garage. É um robô que conta a estória trágica de Joe, um garoto que se queria ser músico num mundo onde a música é proibida, e que, como qualquer personagem de uma obra destópica, só se fode nessa merda. Tirei o nome pra por no meu blog porque ele é um personagem narrador, ou seja (perdoem-me o teóricos da literatura pelo meu pleonasmo) ele conta uma estória. É mais ou menos o que vou fazer aqui. Ou não (c.f. C. V.). Mas mais do que isto, é um modo de homenagear uma dos meus artistas/ intelectuais preferidos, o Frank Zappa.

Sem querer babar demais o ovo dele (perdoe a ironia, dizer isso de quem morreu de câncer de próstata), quero fazer somente uma pequena defesa daquele que é tão injustiçado. Desde cedo já foi passado pra trás quando os Beatles lançaram o Sargeant Peppers assumindo o título de inventores do disco conceitual, quando o Zappa já o tinha feito um ano antes com o Freak Out. E segue-se, quando as pessoas dizem que ele só faz besteira, doidice, que era um drogado (a maior das mentiras), que tinha era inveja dos outros e por isso metia o pau em tudo.

Acontece que o Franquinho tinha era um projeto muito bem articulado na cabeça, tanto musicalmente quanto politicamente. Como músico ele foi um verdadeiro gênio, revolucionando a música contemporânea, ao se envolver com os mais diversos gêneros musicais, muitas vezes ao mesmo tempo. Lançou em torno de 60 discos de estúdio durante quase 40 anos de carreira, compondo desde blues até música erudita. Seu projeto musical não era somente gravar um monte de doideras, ou xingar todo mundo, mas sim buscar novos elementos para uma arte que parecia estar quase no final de si mesma (depois do dodecafonismo, o que se tinha a fazer?), misturando tudo o que tinha direito do modo mais livre possível; estava, portanto, em sintonia com os eruditos da música que buscavam uma solução na música concreta, por exemplo. Mas sem se prender a rótulos. Nem a rotinas.

Começando...

A onda de blogs está tomando conta do pedaço, pra dizer num chavão à la sessão da tarde. Todo mundo faz blog, até eu, embora nao considere A Macaxeira Semiótica um blog meu, mas sim do picarianismo em geral. Fiquei em dúvida, confesso, se deveria ou não fazer novamente um blog, mas acabei meio que decidindo que sim, faço de novo um, mas agora tem que ser diferente. Nada de coisas pessoais. O Central Scrutinizer é um blog de textos literários/jornalísticos/intelectualizóides, e não um blog sobre Lusca. É pra ser um blog sério e não sério ao mesmo tempo, mais ou menos como A Macaxeira Semiótica; portanto, não será estranho ver correlações entre os dois. Vou exercitar meus textos aqui, pra ver no que dá, pra não ficar só pensando em casa, deixando as idéias se perderem entre um Jornal Nacional e outro, entre um Hermes e Renato e outro. Vamos ver o que acontece. Mas quero deixar claro que não vou querer falar de mim como fiz nos outros blogd que criei anteiormente, então não venham ler o Central Scrutinizer procurando saber como estou: pra isso mandem um e-mail, telefonem ou qualquer coisa do tipo. Agora, se querem acompanhar meus pensamentos artísticos e satíricos, aqui é o lugar certo. Só espero que não durmam na leitura; é vergonhoso.